Medidas para sanar dívidas de distribuidoras da Eletrobras dividem opiniões

Da Redação | 03/04/2018, 21h16

Parlamentares e diretores da Eletrobras divergiram nesta terça-feira (3) sobre as alternativas para evitar a liquidação das distribuidoras da estatal, caso o leilão de venda previsto para o final de maio não seja bem-sucedido. O debate ocorreu em audiência pública da comissão mista da medida provisória (MPV 814/2017) que possibilitou o início de estudos para a privatização da Eletrobras.

Atualmente, as distribuidoras não têm contratos de concessão vigentes, portanto não precisam de projeto de lei aprovado pelo Congresso para serem privatizadas. A MP trata, entre outros pontos, de questões pendentes das distribuidoras, inclusive sobre as dívidas, para prepará-las para a venda. Caso a operação se consolide, uma parte dos débitos das distribuidoras (R$ 11,2 bilhões) será assumida pela Eletrobras.

O objetivo do governo é vender seis distribuidoras endividadas, entre elas a Amazonas Energia, que sozinha acumula deficit na ordem de R$ 15 bilhões. Para o presidente da comissão, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), a MP corrige questões estruturantes do setor, sobretudo ao permitir que União e Eletrobras absorvam parte da dívida das distribuidoras, desonerando o investidor.

— Essa MP é fundamental para corrigir questões fundamentais e estruturantes com relação às distribuidoras da Região Norte, possibilitando desatar nós do setor elétrico — disse.

Braga, no entanto, fez a ressalva de que a MP sozinha não resolve a questão energética.

— Não é possível que a Região Norte seja desenvolvida com o sistema integrado unicamente com o setor privado. Não temos um mercado maduro para responder a isso — completou.

Já a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) discordou das chamadas medidas de saneamento sobre as distribuidoras da companhia.

— A Amazonas Energia e a Eletrobras são um sistema interligado nacional e temos de pensar no todo, não adianta tampar um santo destampando outro. Se, por um lado, a MP resolve os problemas nas distribuidoras, por outro, cria um muito maior porque nós estamos interligados — argumentou.

Para o presidente da Eletrobras Distribuição Amazonas, Tarcísio Estefano Rosa, a venda das distribuidoras é necessária para a sustentabilidade do sistema elétrico nacional.

— Existe um risco de um buraco negro na legislação e, se essa concessão desaparecer, teremos de pensar em uma Varig. O pior negócio é não ter um segundo dono — disse, lembrando a situação da gigante aérea brasileira, que entrou em recuperação judicial em 2006 e encerrou totalmente suas atividades em 2010.

Rosa criticou a falta de clareza sobre o responsável pelas dívidas — se o governo ou a Eletrobras — caso as privatizações fracassem.

Projeto de lei

A MP revogou um dispositivo da Lei 10.848/2004 para excluir a proibição de privatização da Eletrobras e de suas subsidiárias. Entretanto, isso não autoriza a privatização das concessionárias, o que somente ocorreria por meio de um projeto de lei aprovado pelo Congresso.

O relator da comissão mista, deputado Julio Lopes (PP-RJ), reforçou esse ponto.

— Essa MP poderia tratar de muitas coisas, mas não poderia colocar a Eletrobras no Plano Nacional de Desestatização, porque nós teríamos conflitos e demandas desnecessários para um debate já tenso.

Sobre a autorização para a privatização da Eletrobras, tramita hoje na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 9463/2018, do Poder Executivo. O texto está em análise em comissão especial.

Com a Agência Câmara Notícias

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)