Do porto de Manaus saem as principais linhas de passageiros da Bacia Amazônica, cheias de redes para dormir porque as viagens geralmente duram dias. É comum as embarcações também levarem mercadorias

Marcio Maturana

Os rios da Amazônia, com 18,3 mil quilômetros de vias navegáveis, transportam 1,2 milhão de pessoas por mês. É uma multidão que ocuparia o 14º lugar na lista de municípios mais populosos do Brasil, à frente de Campinas (SP). Apesar disso, estima-se que menos de 10% do cerca de 1 milhão de embarcações da região tenham licença na Capitania dos Portos. Resultado: a precariedade e a hiperlotação fazem vítimas frequentes, tanto em naufrágios quanto em acidentes como os escalpelamentos, quando o couro cabeludo das mulheres é arrancado por um eixo rotatório das embarcações.

Duas novidades pretendem melhorar esse cenário. Uma é a Frente Parlamentar Mista pelo Desenvolvimento da Navegação Fluvial na Amazônia, que dia 13 foi reinstalada pelo Congresso, com a participação de seis senadores e 215 deputados. Outra é que ainda neste semestre será concluída pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), com o objetivo de dar mais segurança às embarcações. O transporte fluvial é a principal via de deslocamento nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia e Pará.

- A frente parlamentar é muito importante porque, na Amazônia, as estradas são os rios. Infelizmente, mais de 60% da produção da região ainda é transportada sobre rodas, encarecendo tudo. Precisamos inverter isso, mas o governo tem investido no sistema rodoviário em detrimento do hidroviário - disse Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

Além de Flexa, participam da frente os senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Inácio Arruda (PCdoB-CE), João Capiberibe (PSB-AP), Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Lídice da Mata (PSB-BA). A presidente é a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), que pretende definir um calendário de ações até a semana que vem.

- Serão criados grupos de trabalho, e um dos principais objetivos é garantir a segurança, provocando a presença do Estado brasileiro no apoio a esse modal de transporte - afirmou Janete.

Ela explica que, nas centenas de pequenos estaleiros ao longo da malha hidroviária, as embarcações são fabricadas de acordo com o conhecimento centenário da população, muitas vezes passado de pai para filho, sem cursos de engenharia ou arquitetura naval.

- Enquanto nas metrópoles carros e até bicicletas são aprimorados com investimentos em pesquisa, os carpinteiros navais da Amazônia continuam trabalhando sem agregar conhecimento mais moderno e sem subsídios para construção. Muitos usam motores que seriam para ralar mandioca - disse.

Janete defende a instalação de escola de carpintaria naval e linha de crédito para novas embarcações, com recursos do Fundo da Marinha Mercante, que, até o fim de 2014, deve acumular R$ 30 bilhões.

Simples e barato

O trabalho desenvolvido pelo Ifam tem a preocupação de possibilitar a redução do risco de naufrágio sem dificultar a construção das embarcações, para que a novidade possa ser amplamente disseminada. O professor Flávio José Aguiar Soares, que coordena a pesquisa, explica que o projeto tem duas vertentes: um dispositivo que aumenta em 60% a estabilidade da embarcação e um sensor eletrônico que verifica em tempo real a oscilação do barco.

- A estabilidade transversal será melhorada por um sistema de baixo custo e fácil de instalar, para não ficar só na teoria. Simplificando, é como um tanque com água. Embarcações de grande porte têm solução semelhante, só que mais sofisticada e cara. Já o sensor exibe os resultados em um display. Se o barco oscila na frequência de ressonância, o comandante fica sabendo.

Segundo Soares, outra causa de naufrágios na Amazônia é o choque dos cascos das embarcações, geralmente construídos de madeira, com troncos submersos. Ele e sua equipe, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), basearam-se em linhas de veículos que naufragaram para construir barcos em pequena escala que foram utilizados em plataforma de teste. Avaliaram o comportamento dos modelos em situações instáveis, como uma forte correnteza ou excesso de peso.

Navegação na maior bacia hidrográfica do mundo

Entre os senadores Flexa Ribeiro e João Capiberibe, a deputada federal Janete reabre os trabalhos da frente parlamentar mista


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