Mulheres mutiladas em escalpelamento

Da Redação | 27/03/2012, 00h00

Couro cabeludo arrancado violentamente, muitas vezes levando orelhas, sobrancelhas e parte da pele do rosto e do pescoço. Esse é o escalpelamento, que acontece quando o cabelo se enrosca no eixo rotativo do motor de pequenos barcos, bastante usado pelas populações ribeirinhas desde 1960 porque é barato e consome pouco diesel. Há registros de 294 mutilações desse tipo na Amazônia.

- Só no meu estado, Amapá, há 107 vítimas de acidente com o eixo rotativo. São cem mulheres sem o couro cabeludo e sete homens que perderam o órgão genital - disse Janete Capiberibe.

Ela é autora do projeto que originou a Lei 11.970/09, obrigando a cobertura do eixo, do motor e das partes móveis. A deputada comemora que no ano seguinte à sanção da lei já não foi registrado nenhum acidente desse tipo no Amapá. A cirurgia plástica reparadora tem um custo completamente fora da realidade econômica das vítimas de escalpelamento.

- Mês passado, fizemos avaliação em 86 das 107 vítimas do Amapá. Levamos todas à capital, Macapá, em parceria com o governo do estado e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - relatou.

As análises médicas servirão de base para um mutirão de cirurgias que deve ocorrer até junho. Além disso, a Marinha tem feito campanhas de prevenção e cobertura do eixo. Em 2010, foram feitas mil coberturas.

Na audiência de relançamento da frente parlamentar, a presidente da Associação das Vítimas de Acidente de Escalpelamento, Rosinete Serrão, falou sobre o trauma psicológico das vítimas.

- Muitas delas se afastam da família e da escola e têm dificuldades em aceitar a realidade. Sem falar que sofrem discriminação da sociedade - contou Rosinete.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)