Comissão debaterá arquivos da CIA sobre assassinatos durante a ditadura militar
carlos-penna-brescianini | 23/05/2018, 10h48
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) fará nesta quinta-feira (24), às 9h30, uma audiência pública interativa para analisar as informações sobre tortura e assassinatos no Brasil durante o regime militar, divulgadas pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).
Os documentos liberados relatam reuniões entre o então presidente da República, general Ernesto Geisel (1902-1996), e os generais Milton Tavares, Confúcio Danton de Paula e João Figueiredo (1918-1999), debatendo a continuidade de torturas e execuções sumárias de militantes políticos.
A reunião foi requerida pela presidente da CDH, senadora Regina Sousa (PT-PI), após receber diversos pedidos de mais informações sobre os documentos liberados pela CIA.
Foram convidados para participar o ex-presidente da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles; o jornalista Luiz Claudio Cunha, membro da mesma comissão; a ativista Iara Xavier, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; o jornalista e pesquisador Eumano Silva; além da jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante Stuart Angel Jones, ambos assassinados durante a ditadura militar (1964-1985).
Golbery
O jornalista e pesquisador Élio Gaspari, em sua coleção Ilusões Armadas, sobre a ditadura militar, já havia relatado duas conversas do general-presidente Ernesto Geisel sobre a política de assassinato de militantes de esquerda que fossem aprisionados. Uma foi com ministro do Exército, Vicente de Paulo Dale Coutinho, em que discutem a eliminação de “terroristas” (militantes de esquerda) que tentavam voltar ao Brasil através da fronteira terrestre. Em outra, o comandante do Centro de Informações do Exército (CIE), general Milton Tavares, relata a eliminação de todos os guerrilheiros do PCdoB que o Exército tinha encontrado no Araguaia.
Essas conversas foram atribuídas aos arquivos do general Golbery do Couto e Silva (1911-1987), fornecidos pelo seu ex-secretário Heitor Aquino Ferreira. A recente divulgação de parte dos arquivos da CIA reforçaria a tese de que teria havido uma política sistemática de eliminação de opositores, como o deputado Rubens Paiva (1929-1971), que não era membro de nenhuma organização de oposição armada ao governo militar. A senadora Regina Sousa observa que essas informações contradizem o discurso oficial do regime militar, segundo o qual as mortes se deviam principalmente a confrontos entre militantes e as forças de repressão.
— Deve-se aprofundar todos esses fatos, pois os documentos abertos pela CIA sobre o regime militar trazem novas informações que devem ser esclarecidas — afirmou.
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