O brilho azul que virou mortes e pesadelo
Da Redação | 25/09/2012, 00h00
Enterro de Leide das Neves: a morte da menina gerou comoção em Goiânia e protestos por medo da radiação |
Joseana Paganine
Em maio deste ano, a presidente da República, Dilma Rousseff, sancionou a Lei 12.646/12, que instituiu a data de 13 de setembro como o Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas, para lembrar o maior acidente com materiais radioativos da história do país.
Naquele dia, um domingo, dois catadores de material reciclável foram ao prédio abandonado do Instituto Goiano de Radiologia e levaram um aparelho radiológico, que foi vendido ao dono de um ferro-velho, Devair Alves Ferreira. Na mesma noite, Devair abriu a cápsula radioativa e se encantou com um pó branco que emitia um brilho azul.
Ivo Alves Ferreira, irmão de Devair, levou para casa uma porção do césio e mostrou para toda a família. A filha mais nova de Ivo, Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, espalhou césio por todo o corpo para, segundo ela, “brilhar no escuro”, e ingeriu o pó com a comida.
Em pouco tempo, várias pessoas começaram a passar mal. Desconfiada de que o pó poderia ser a origem das doenças, a mulher de Devair, Maria Gabriela Ferreira, levou, no dia 29 de setembro, a cápsula de 22 kg em um ônibus até a Vigilância Sanitária. Foi constatado, então, que se tratava do césio 137, material radioativo, e a Comissão Nacional de Energia Nuclear foi acionada.
Foram monitoradas, ao total, 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação, sendo que, em 120 delas, apenas roupas e calçados estavam contaminados.
As 129 pessoas que constituíam o grupo com contaminação interna passaram a receber acompanhamento médico regular. A menina Leide chegou a ser levada para tratamento no Rio de Janeiro, mas não resistiu e morreu com outras três vítimas: Maria Gabriela e dois catadores.
O ferro-velho, residências da região e pertences das famílias envolvidas foram destruídos, gerando toneladas de rejeitos radioativos. Um depósito foi construído em Abadia de Goiás, cidade próxima a Goiânia.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)