Predomina a propaganda de produtos não saudáveis

Comparado a outros dez países, o Brasil é o que menos exibe propaganda de alimentos saudáveis, como frutas, vegetais, cereais integrais, leite e derivados com baixo teor de gordura, e carnes magras (peixe, por exemplo). Esse foi um dos principais resultados apontados pelo estudo, coordenado por um grupo canadense, do qual o Observatório da UnB participou com recursos financiados pelo Ministério da Saúde.

Com metodologia capaz de avaliar a publicidade de alimentos infantis em canais de televisão com sinal aberto nesses 11 países — como a descrição de brindes promocionais vinculados à venda desses produtos —, o levantamento foi realizado entre o final de 2007 até fevereiro de 2008. Foram monitoradas 192 horas de programação em cada um dos países. No Brasil, o levantamento foi feito em três das principais emissoras (Globo, Record e SBT). Os pesquisadores da UnB constataram que o Brasil apresenta um percentual de peças publicitárias de alimentos não saudáveis bastante semelhante ao de países como Inglaterra, Itália, Suiça, Espanha, Grécia, China e Austrália. ¿Nos Estados Unidos, o percentual é maior. E com o Canadá não há como comparar, porque lá a publicidade de alimentos infantis é proibida¿, explica a professora da UnB, Renata Monteiro.

O que diferencia o Brasil é a pouca publicidade de alimentos saudáveis. Os dados acabaram distorcidos, segundo a pesquisadora, porque consideraram a publicidade dos supermercados oferecendo frutas, verduras e outros itens da feira semanal. Esse tipo de publicidade foi excluído do estudo anterior do Observatório da UnB, realizado entre agosto de 2006 e o mesmo mês de 2007, quando os pesquisadores avaliaram 4.160 horas de programação de quatro canais de TV, dois por assinatura voltados para o público infantil (Cartoon Network e Discovery Kids) e dois abertos (Globo e SBT).

Esse estudo mostrou que 85,2% dos produtos alimentícios anunciados nesses canais são destinados ao público infantil. O dado alarmante é que 95,2% desses anúncios são de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar. A veiculação, segundo a pesquisadora da UnB, ocorre principalmente próximo à hora do almoço, no período da tarde e à noite, com pico no chamado horário nobre, quando a criança ainda está na frente da televisão. 

Os apelos lúdicos, conquistar amizades por meio do produto e especialmente o reforço da marca com mensagens para promoção de brindes (cerca de 35% das 290 peças publicitárias analisadas) são estratégias predominantes nas propagandas de alimentos infantis. Outro aspecto importante, segundo Isabella Henriques, do Instituto Alana, é fato de estudos sobre o desenvolvimento infantil terem comprovado que a criança até os seis anos não tem capacidade de discernir o que é propaganda do que é a programação infantil da emissora. ¿Só próximo aos 12 anos é que a criança vai apresentar condições de avaliar mais adequadamente as estratégias de publicidade¿, informa a coordenadora do projeto Criança e Consumo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)