Foto:Geraldo Magela / Agência Senado

ATUAÇÃO. Serys preside o

conselho do diploma

mulher-cidadã Bertha Lutz

Anualmente, cinco mulheres são homenageadas pelo Senado Federal com um prêmio em reconhecimento ao trabalho na defesa dos direitos femininos. O prêmio leva o nome da bióloga Bertha Lutz (1894-1976), ativista incansável na luta contra a discriminação da mulher. A escolha é feita pelo Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, hoje presidido pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Em entrevista ao Jornal do Senado, Serys, uma das líderes da bancada feminina no Congresso, ressalta a importância da participação da mulher na política.

Em 2002, a bancada feminina conquistou um número recorde de vagas no Congresso Nacional. Ainda assim, o número é muito baixo. Por que as mulheres não estão ocupando mais vagas?

Isso se dá porque a dominação masculina, seja na política, seja em todos os setores, é uma dominação histórica e, portanto, uma realidade que não se pode modificar de uma hora para outra. Tivemos sempre que nos afirmar como profissionais capacitadas e, ao mesmo tempo, nos preocupar com a criação dos filhos e continuar gerenciando as atividades domésticas. É fácil perceber que uma mulher sobrecarregada com essa dupla jornada lida ainda com muitas barreiras para ampliar sua agenda e se multiplicar como agente político.

O sistema de cotas facilitou a participação feminina nos partidos? Outros incentivos deveriam ser adotados?

O sistema de cotas contribuiu para a ampliação do número de candidatas, mas não é suficiente. É preciso ampliar os equipamentos sociais, como creches, lavanderias e restaurantes comunitários, notadamente nos bairros populares, para que um percentual cada vez maior de mulheres tenha oportunidade de se afirmar no trabalho, na família e, conseqüentemente, na vida pública. A discussão do salário para a dona-de-casa, que começa a ser debatido no Parlamento, será outro instrumento de afirmação da mulher. No meu primeiro ano de atuação, fui autora de uma proposta que amplia a participação das mulheres na Mesa do Senado.

Por que a mulher deve ingressar na política?

É muito importante que cada mulher compreenda que, fazendo política, ela só tende a ampliar nossos direitos, nossa liberdade, todas as nossas possibilidades de realização pessoal. Que mudanças a participação feminina no Parlamento trouxe em benefício das mulheres brasileiras?

A participação feminina no Congresso Nacional concretizou importantes conquistas, como a criação de conselhos de direitos da mulher e delegacias da mulher. A violência contra a mulher passou a ser considerada crime, o assédio sexual já é reprimido por legislação específica, a lei das cotas provocou o compromisso dos partidos com a participação das mulheres na política.

Qual a agenda da bancada feminina para a presente legislatura?

Uma questão que será discutida com energia pela bancada feminina no Congresso é a importância de se ampliar a destinação dos recursos do Fundo Nacional de Segurança para o financiamento das casas-abrigo. Hoje temos apenas 72 casas-abrigo espalhadas pelo país, das quais somente 48 estão em funcionamento e são fundamentais para resguardar a mulher que sofre violência doméstica.

O que ainda precisa mudar na legislação em favor das mulheres?

O Código Penal brasileiro ainda preserva termos discriminatórios como "mulher honesta", que estamos cuidando de eliminar da legislação. No campo profissional detectamos que muitas de nós ainda percebem salários 30% inferiores aos que são pagos aos homens. Questões como essas precisam ser urgentemente enfrentadas. Não podemos permitir que aqueles que nos exploram e subjugam continuem tendo uma vida folgada, enquanto tantas mulheres vivem ainda mergulhadas em vidas de desespero.


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