Argentina

Da Redação | 05/03/2013, 00h00

Para acabar com esse tipo de manobra, a lei foi modificada em 2009, com a substituição de “reservar” por “preencher”. A cota foi finalmente posta em prática. Nas eleições municipais do ano passado, houve cidades onde o juiz eleitoral rejeitou todas as candidaturas dos partidos que descumpriam a reserva. As siglas precisaram correr para recrutar mais candidatas. Assim, dos postulantes a vereador em 2012, 32,6% foram mulheres. Nas eleições de 2008, o índice havia sido de 19,8%.

A senadora Vanessa ­Grazziotin (PCdoB-AM) crê que o atual modelo de cota, apesar dos avanços, é insuficiente. Para ela, o sistema mais adequado é o da Argentina.

Nas eleições proporcionais, os argentinos votam em partidos, não em candidatos individuais. Cada partido tem uma lista fechada de postulantes. Se a votação der a uma legenda dez assentos no Legislativo, por exemplo, os dez primeiros nomes da lista serão os eleitos. No país vizinho, as listas precisam ter ao menos uma mulher depois de dois homens. Hoje, elas ocupam ao redor de 38% das vagas do Parlamento.

— Enquanto o mundo avança, o Brasil fica para trás. Não podemos mais aceitar o machismo, por vezes inconsciente, que produz nossos índices vergonhosos de participação feminina no poder. Devemos insistir na reforma política — diz Vanessa.

Para José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ligada ao IBGE), o grande entrave está nos partidos. O Brasil tem 30 siglas políticas. Em todas, o presidente nacional é homem. A estrutura interna também é majoritariamente masculina.

É por isso que, de acordo com Alves, as candidatas ganham menos tempo na TV e menos verba para a campanha eleitoral. Ele diz que não é raro que os partidos recrutem candidatas “laranjas”. São mulheres que nem sequer chegam a pedir votos. Alistam-se tão somente para o partido alcançar sua cota.

 

Marina


— Há 20 anos, eu imaginava que tínhamos poucas políticas porque os eleitores discriminavam as mulheres.

Com o tempo, vi que não era isso. O obstáculo está nos partidos. Veja o caso de Marina Silva. Na última eleição presidencial, ela teve 20 milhões de votos. É muita coisa. Mesmo assim, foi praticamente expulsa do PV. O problema é que, por ser mulher, ela não dominava a máquina do partido — afirma o professor.

No mundo ideal, os postos do poder seriam divididos entre homens e mulheres na proporção 50%–50%. Não se trata apenas de refletir a composição da sociedade. Quando existem mulheres ditando as políticas públicas, a população como um todo sai ganhando.

— As mulheres tendem a ser mais preocupadas com questões sociais, de saúde, de educação. A presença delas eleva a qualidade da política. Quando homens e mulheres lideram juntos, tomam decisões que atendem melhor a diversidade e as necessidades da sociedade — explica Irune Aguirrezabal, uma das diretoras da ONU Mulheres.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)