Senadores reagem a orientação de Bolsonaro para comemorar o golpe de 1964

Da Redação | 26/03/2019, 20h33

Vários senadores criticaram em Plenário, nesta terça-feira (26), a orientação de Bolsonaro para que as Forças Armadas comemorem no próximo dia 31 de março os 55 anos do golpe militar de 1964. A data marca a derrubada do governo de João Goulart (1919-1976) e a instauração do regime militar no Brasil.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou de "provocação" a ordem do presidente da República, Jair Bolsonaro, para que as Forças Armadas comemorem o golpe de 1964. O senador sublinhou o equilíbrio e o compromisso com a democracia dos comandantes militares, incluindo o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e pediu que as Forças Armadas não atendam ao pedido de Bolsonaro sobre uma questão que, a seu ver, já foi objeto de conciliação nacional, nos anos 1980.

Randolfe afirmou ainda, nesta terça-feira (26) em Plenário, que a declaração de Bolsonaro é lamentável e, sem perceber, atenta contra ele mesmo, já que, durante a ditadura cívico-militar (1964-1985), "um capitão reformado, punido pelo Exército, jamais chegaria pelo voto popular à Presidência". Para o senador, a celebração do golpe seria o mesmo que os alemães comemorarem a ascensão de Adolf Hitler (1889-1945) ou os russos comemorarem os gulags do regime soviético (1917-1991).

— A democracia permite que se defenda uma ditadura. Mas em uma ditadura não é possível se defender a democracia — afirmou Randolfe.

Ele também cobrou de Jair Bolsonaro que "saia do Twitter e comece a governar" e que "deixe de bate-boca" e trabalhe pela unidade do país e pela agenda nacional. Na visão do senador, “não chegaremos a bom termo quando o presidente busca reabrir chagas que as próprias Forças Armadas tinham como resolvidas”.

Democracia

Na mesma linha de Randolfe, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) destacou seu respeito e admiração pelo papel das Forças Armadas. Ele, porém, criticou a orientação para comemorar o golpe de 1964.

— Nós efetivamente não podemos apoiar esse tipo de manifestação — afirmou o parlamentar.

A senadora Eliziane Gama (PPS-MA) disse ver a orientação do presidente com indignação e preocupação. Ela definiu o pedido de Bolsonaro como uma provocação à nação, diante da luta histórica pela democracia. Para a senadora, a medida seria também uma desmoralização das Forças Armadas, que ficariam vinculadas a um período que “precisamos esquecer”.

— O que temos aqui é uma tentativa de cultuar um período de pessoas desaparecidas, com famílias que não tiveram ao menos o direito de velar seus entes queridos — disse a senadora.

"Evento cívico-militar"

Em sentido contrário, porém, o senador Major Olimpio (PSL-SP) afirmou que sempre houve um evento cívico-militar em 31 de março. Ele disse que o que alguns chamam de golpe militar foi na verdade “uma contrarrevolução para evitar que milhões de vidas brasileiras fossem ceifadas”. Ele chamou a ex-presidente Dilma Rousseff de guerrilheira e disse que foi ela quem orientou, em 2011, a não se fazer mais referência ao evento de 1964.

— Com todo o respeito à manifestação do senador Randolfe, quero deixar muito bem claro que nós sempre tivemos a chamada Ordem do Dia e um evento cívico-militar em 31 de março. Não vou entrar num debate em relação às circunstâncias — declarou o parlamentar.

Segundo o senador, trata-se de um fato histórico, que deu início ao governo militar. Major Olimpio afirmou que Bolsonaro “não está insuflando nada”, pois ele é o comandante-chefe das Forças Armadas. Ele criticou a Comissão da Verdade, por não investigar também os crimes cometidos por guerrilheiros, e a classificou de “comissão da vergonha”. Disse também que ditaduras de esquerda mataram milhões de pessoas.

— Que sejam punidos aqueles que se excederam e que sejam valorizados aqueles que deram a sua vida lutando em defesa da sociedade — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)