Para convidados de audiência, cuidado e atenção podem evitar casos de suicídio

Da Redação | 03/09/2018, 18h17

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) promoveu na tarde desta segunda-feira (3) uma audiência pública para debater a questão do suicídio. Os participantes concordaram que esse é um problema de saúde pública que demanda a atenção de toda a sociedade.

A audiência foi sugerida e presidida pela senadora Regina Sousa (PT-PI), presidente da CDH, para quem o suicídio impacta pais, familiares, amigos e toda a sociedade. Ela ressaltou o grande número de casos “nos extremos”, entre os mais jovens e os mais idosos.

— As estatísticas são números sem alma, que não traduzem a dor dos envolvidos — lamentou a senadora.

Para Paulo Paim (PT-RS), o desemprego e o uso de drogas entre os jovens e a situação da aposentadoria entre os idosos são possíveis fatores que podem motivar o suicídio. Ele alertou para o risco da dependência tecnológica, com o “vício em celulares”, que pode prejudicar o relacionamento pessoal no meio familiar.

— O jovem quer um ponto de apoio e pode encontrá-lo no pai ou mãe, ou em um amigo. As pessoas precisam falar e serem ouvidas.

Estatísticas

A jornalista Leila Herédia apresentou o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que atende de forma gratuita e sigilosa as pessoas que querem conversar, por telefone, e-mail e chat, 24 horas em todos os dias do ano. Ela é voluntária e porta-voz do CVV, que tem 56 anos de trabalho ininterrupto no Brasil. O trabalho é feito de forma voluntária, com ênfase na escuta ativa e no princípio do não-julgamento.

Leila registrou que 32 brasileiros morrem todo dia por suicídio e que cerca de 17%  da população já pensaram em tirar a própria vida. Segundo a jornalista, de cada 10 mortes por suicídio, nove poderiam ser evitadas com tratamento adequado. Ela acrescentou que atitudes como estar presente, dar tempo e espaço, saber ouvir e estar aberto ao diálogo podem ajudar na abordagem dos casos.

— O CVV não substitui o atendimento psicológico ou psiquiátrico, mas trabalha como um pronto-socorro emocional.

Por sua vez, a psiquiatra Fernanda Benquerer Costa, especialista em ações de prevenção de suicídio, informou que o Brasil registra mais de 11 mil casos de suicídio ao ano, o que coloca o país em oitavo lugar no ranking mundial. Ela acrescentou que, no mundo, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 e 19 anos, atrás somente dos acidentes de trânsito.

Fatores estressores, como perda de familiares e desemprego, e doenças emocionais, como depressão, foram apontadas pela psiquiatra como possíveis motivos para um suicídio. Segundo a médica, dar suporte social, restringir o acesso a meios perigosos, procurar tratamento adequado para deficiências emocionais e cultivar atitudes de esperança são recursos que podem ajudar a evitar os suicídios.

— A sociedade precisa ouvir sem julgamento, demonstrar empatia e respeitar valores e opiniões do outro — afirmou Fernanda, que pediu mais debates na imprensa sobre o assunto.

Já a psicóloga Rosane Lorena Granzotto, membro do Conselho Federal de Psicologia, informou que o número de suicídios cresceu 60% nos últimos 40 anos. Ela pediu mais políticas públicas para o problema, voltadas principalmente a populações específicas como os indígenas, os retirantes e a comunidade LGBT.

Aumento no Brasil

A assessora técnica na Secretaria de Atenção em Saúde do Ministério da Saúde, Cinthia Lociks de Araújo, disse que os números do Brasil são considerados baixos, se comparados ao resto do mundo. Ela ponderou, porém, que eles vêm caindo em outros países, enquanto crescem no Brasil. Segundo Cinthia, o governo está trabalhando em políticas para diminuir o número de suicídio entre os brasileiros.

A servidora afirmou também que a mídia precisa lidar de forma responsável com o assunto e apontou que o suicídio vai além da questão da saúde. Conforme informou, alguns estados dos Estados Unidos registraram uma grande redução do número de suicídio depois que as armas de fogo passaram a ter um controle mais rigoroso.

Prevenção

A jornalista Ana Graziela Aguiar falou sobre a automutilação, que começa, normalmente, na adolescência — embora existam registros até em crianças de nove e dez anos. Ela coordenou na TV Brasil o documentário Cicatrizes da Tristeza, que trata da automutilação, da depressão e do suicídio. Segundo a jornalista, as escolas e os pais precisam se preparar para lidar com o assunto e darem mais atenção aos adolescentes.

— A automutilação, na maior parte das vezes, não está ligada a uma tentativa de suicídio. É um primeiro pedido de socorro. É um chamado para o sofrimento interno — declarou.

Para o psiquiatra André de Mattos Salles, especialista em atenção à infância e adolescência, a prevenção começa já no útero. Ele disse que quanto mais prevenção na infância, mais qualidade na saúde para o resto da vida. Segundo o psiquiatra, a adolescência tem particularidades muito grandes, que demandam um modo especial na abordagem de assuntos delicados, como o suicídio.

Experiência

A assistente social Francimélia Nogueira, membro do Grupo Vida Que Segue, de pais enlutados por suicídio, relatou sua experiência pessoal com a perda da filha, que cometeu suicídio no ano passado, depois de enfrentar a depressão. Segundo ela, é recorrente que os pais se sintam culpados. No entanto, o apoio de outros pais, a atenção com a espiritualidade e a dedicação ao grupo Vida que Segue são fatores que estão ajudando em sua superação da perda da filha.

— A partir dessa tragédia, aprendemos que é preciso falar sobre o suicídio e buscar ajuda profissional – alertou.

Setembro Amarelo

Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio, promovida pelo CVV, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, internacionalmente, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. A campanha, que teve início em 2015, visa estimular a promoção de eventos que abram espaço para debates sobre suicídio, com o objetivo de alertar a população sobre a importância da discussão do tema. Vários prédios públicos, inclusive o do Senado, são iluminados de amarelo para lembrar a campanha.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)