Aumento de casos de alergia alimentar exige conscientização, afirmam participantes de audiência

Da Redação | 15/05/2018, 18h27

As alergias alimentares ocupam um espaço cada vez maior no rol de doenças com grande incidência na população mundial, muitos novos casos e mais gravidade nas reações, disse nesta terça-feira (15) a médica Marta Rodrigues Guidacci, membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), em audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta terça-feira (15).

— O número de novos alimentos identificados como alérgenos aumenta e não existe uma forma de prevenir o seu aparecimento. O único tratamento realmente efetivo até o momento é a restrição completa das proteínas alergênicas, que é uma tarefa difícil, especialmente na faixa pediátrica — afirmou a médica.

Para os participantes da audiência pública, a instituição de uma Semana Nacional de Conscientização sobre a Alergia Alimentar seria uma forma de disseminar o conhecimento sobre o tema para a sociedade, além de propiciar um maior acolhimento das pessoas alérgicas. A dificuldade de adaptação familiar foi um dos aspectos mais destacados na audiência, sugerida pela senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE).

Rótulos

Fernanda Mainier Hack, uma das coordenadoras do Movimento Põe no Rótulo — que reivindica a rotulagem adequada de produtos alimentícios —, defendeu uma maior visibilidade para a questão das alergias alimentares. Para ela, o assunto tem que ser trabalhado principalmente nas escolas.

— São muitos os casos de reação alérgica no ambiente escolar, até porque é um ambiente onde as crianças e os adolescentes passam boa parte do tempo. Essas reações alérgicas normalmente acontecem por desconhecimento, porque as escolas não estão preparadas para receber a criança que tem alergia alimentar — disse.

A discussão também deve ser levada para o ambiente de trabalho, na opinião de Fernanda Hack, por dois motivos: o adulto que tem alergia alimentar também precisa ser acolhido e os pais de crianças alérgicas precisam da compreensão quando da ocorrência de situações adversas que exigem a ausência do trabalho.

Sucesso

Fernanda destacou o sucesso das semanas de conscientização de alergia alimentar realizadas em outros países. Segundo ela, há vários anos os Estados Unidos, Austrália e Canadá promovem esse tipo de iniciativa. Ela citou ainda as experiências isoladas que tem ocorrido no Brasil, como em Uberaba (MG) e Campos dos Goytacazes (RJ), cidades que aprovaram a realização de uma semana voltada para a questão das alergias.

— Falando de alergia alimentar em uma semana dedicada especialmente para isso a gente vai aumentar a conscientização; incentivar o respeito e a empatia das pessoas; e promover a segurança e a melhora da qualidade de vida de crianças e adultos que têm alergia alimentar — afirmou.

A instituição da semana de conscientização é algo oportuno e necessário, disse o senador Waldemir Moka (PMDB-MS). O senador, que é médico por formação, observou que a iniciativa deveria ser ampliada para abordar também as alergias relacionadas a medicamentos e a venenos de insetos, como formigas e abelhas.

Impactos

Para ressaltar a importância da conscientização sobre o tema, Érika Campos Gomes, mestre em Psicologia Clínica, destacou os impactos psicossociais da alergia alimentar na vida das pessoas alérgicas e na vida das famílias com crianças alérgicas. Segundo ela, a rotina diária da família é afetada significativamente a partir do momento do diagnóstico da alergia.

A psicóloga indicou que a literatura especializada da área reconhece que o enfrentamento da alergia alimentar está associado ao aumento do sofrimento psíquico e a diminuição da qualidade de vida tanto de crianças alérgicas quanto de seus pais. Além disso, ela informou que um terço das crianças com alergia alimentar sofre bullying na escola em função de sua condição.

— Há de fato uma dificuldade de entendimento, de compressão e de apoio da sociedade como um todo, tanto do clico social mais próximo, de familiares e amigos, quanto da sociedade de forma geral — declarou.

Acolhimento

Renata Alves Monteiro, mestra em Nutrição Humana Aplicada, falou ainda sobre sua experiência como profissional e mãe de três filhos alérgicos. Para ela, o processo de acolhimento das pessoas com alergia seria o principal benefício que uma semana de conscientização poderia trazer. Ela acredita que durante a iniciativa a população estará mais disposta a discutir o impacto de cada um dos atores sociais em relação a questão.

— A partir do momento que a gente tem uma semana de conscientização da alergia alimentar, não vamos deixar a discussão só no âmbito individual do cuidado [familiar]. A gente vai começar a discutir isso de maneira responsável com os serviços de saúde e teremos famílias que passarão por um processo de acolhimento e respeito — disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)