Uso eficiente das redes sociais por candidatos e ocupantes de cargos públicos no país ainda está começando, mas eleições ao Senado já mostraram alguns casos de sucesso

 

Quando os conectados, e mesmo os especialistas, pensam em um político que sabe usar as redes sociais, o primeiro nome lembrado é o do presidente norte-americano, Barack Obama. Sua campanha vitoriosa, em parte creditada ao uso intensivo das redes sociais, garantiu-lhe o feito histórico de ser eleito em 2008 o primeiro presidente negro e o mais votado na história de um país marcado por guerras, assassinatos e conflitos raciais ainda hoje estampados no noticiário.

 

A trajetória de Obama deixa lições para políticos de qualquer nação. Uma das principais é que não se deve abandonar o eleitor conectado. Obama interagiu e humanizou sua imagem durante todo o primeiro mandato.

 

— Ele manteve ativo o relacionamento nas redes, como na campanha. Seus discursos estão no YouTube e há aplicativo da Casa Branca para celular — exemplifica Marcelo Minutti, professor de inteligência digital do Ibmec e do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).

 

O uso inteligente das redes sociais contribuiu de forma decisiva para a reeleição de Obama em 2012. Até ontem, o número dos seus seguidores pelo Facebook superava 43 milhões de pessoas, cerca de 46% do total de usuários brasileiros dessa rede, ­considerada a mais popular no país. No Twitter, ele possui cerca de 48 milhões de seguidores, o que significa mais do que o dobro de todos os internautas brasileiros que usam essa plataforma.

 

— [No Brasil], estamos assistindo aos primórdios do que pode ser o uso competente das redes sociais, tanto no debate das ideias quanto nas conversas efetivas com os cidadãos para a construção coletiva do conhecimento— avalia o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Silvio Meira, apontado como um dos pioneiros da internet no país.

 

Meira explica que o uso das redes nas campanhas enfrenta problemas estruturais no Brasil, onde a tradição política é o embate, a troca de acusações e a desconstrução de pessoas e projetos.

Mesmo assim, há exemplos bem-sucedidos nessas eleições. Entre os novos senadores eleitos, dois se ­destacam no uso das redes sociais: José Serra (PSDB-SP) e Romário (PSB-RJ).

 

Segundo Meira, Serra não desativou o patrimônio digital construído durante a campanha presidencial de 2010. Ele possui forte presença no Twitter, com quase 1,2 milhão de seguidores.

 

Romário tem cerca de 1,5 milhão de seguidores no Facebook e quase 1,9 milhão no Twitter.

 

— Ele soube ser coerente, competente no uso das redes, criou relacionamento além dos seus eleitores diretos. As mensagens têm a voz dele. Ele participa da entidade social Romário — analisa o professor da UFPE.

 

Os especialistas concordam que a renovação de um terço das cadeiras do Senado traz uma Casa mais conectada.

 

— O cidadão está conseguindo humanizar mais sua relação com os senadores. Isso começou em 2010. Agora a campanha política é um processo contínuo — alerta Minutti.

 

Alvaro Dias, reeleito senador pelo PSDB paranaense, considerado um dos parlamentares mais conectados da Casa, colheu resultados surpreendentes nessas eleições. Obteve a maior votação proporcional entre os estados, com mais de 4 milhões de votos.

 

O senador gosta de interagir ­diretamente com os internautas. E faz isso pelo menos 80% das vezes, segundo a assessoria dele. Pelo Twitter, possui 237 mil seguidores e usa essa rede principalmente para se comunicar com os jornalistas e as mídias tradicionais. Para interagir com os eleitores, usa o Facebook, com 295 mil seguidores.

 

As postagens de Alvaro são capazes de alcance social significativo. Só uma delas, entre compartilhamentos, curtidas e comentários, registrou no ano passado alcance de quase 10 milhões de pessoas. Internamente, para ­despachar com sua equipe, ele aderiu ao WhatsApp, rotina seguida por outros senadores, como Paulo Paim (PT-RS).

 

Outro exemplo de presença bem-sucedida nas redes sociais é Cristovam Buarque (PDT-DF). O senador possui 419 mil seguidores no Twitter e gosta de interagir diretamente na maioria das vezes.

 

— Uso, e muito, para divulgar minhas propostas e fazer embate permanente com meus seguidores. Todo dia estou lá. É impossível responder a todos, mas eu tento — diz o senador.

 

Até agora, o parlamentar foi o político mais requisitado pelos jovens que se reúnem em um dos eventos digitais mais importantes do país, o youPIX Festival.


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