André Falcão

Equipe leva para hospital órgão que será transplantado: Brasil cresceu nesse tipo de cirurgia, 
mas número de famílias que não autorizam retiradas de órgãos de parente morto ainda é alto

O aumento no número de transplantes no Brasil nos últimos anos é uma notícia a se comemorar. Segundo o Ministério da Saúde, foram realizados 12.287 transplantes no primeiro semestre de 2012, o que representa um aumento de 12,7% em relação às 10.905 cirurgias feitas no mesmo período de 2011. Porém, mesmo com a diminuição da fila, muitas pessoas ainda esperam bastante por um órgão que possa salvar suas vidas.

— Os transplantes deixaram de ser um experimento para se tornar uma opção terapêutica acessível, capaz de prolongar a vida de diversos pacientes — explica o nefrologista José Osmar Medina, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

Hoje, mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso, reintegrando o paciente ao trabalho e a uma vida normal. Medina acredita que o crescimento dos transplantes se deve ao apoio do governo federal desde os primeiros investimentos na formação de especialistas no exterior, há mais de 20 anos.

Para ele, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) está bem estruturado, o que contribui para a própria ­credibilidade.

Pacientes se submetem a hemodiálise: 20 mil brasileiros à 
espera do transplante de rim

— A população passa a acreditar mais, porque vê os benefícios dos transplantes na sobrevida de pacientes transplantados — argumenta.

De todos os transplantes do país, 95% são custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o coordenador-geral do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Heder Murari Borba, os desafios para aumentar o número de transplantes do sistema incluem incrementar as notificações de mortes encefálicas e definir estratégias para lidar com o envelhecimento da população, o que muda o perfil dos doadores e dos receptores.

— Além disso, queremos fazer crescer o sistema garantindo a qualidade e excelência na captação de órgãos e tecidos, com transparência na distribuição e controle e avaliação dos resultados — acrescenta Borba.

O SNT conta com 548 estabelecimentos de saúde, 1.376 equipes médicas autorizadas a realizar transplantes e 25 centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos, que coordenam a alocação dos órgãos baseada na fila única, estadual ou regional. O Ministério da Saúde tem oferecido incentivos financeiros para estimular a realização de mais transplantes no SUS. Os hospitais que fazem quatro ou mais tipos de transplantes podem receber um incentivo de até 60% nos valores pagos pelos procedimentos. O ministério instituiu neste ano a tutoria em doação de órgãos e transplantes, com o objetivo de estimular centros de excelência a capacitar serviços que queiram melhorar ou iniciar a realização desse tipo de cirurgia.

Negativas

José Medina apresenta números da ABTO segundo os quais, em média, a cada oito potenciais doadores de órgãos, apenas uma notificação é feita.

— Realizar campanhas junto à população e aos médicos para notificação da existência de potencial doador, principalmente aqueles que sofrem derrames ou traumas cranianos, é um dos caminhos para aumentar o número de transplantes — propõe.

Além da baixa notificação, os números da ABTO também apontam a recusa das ­famílias como fator para a não concretização da retirada de órgãos. Entre janeiro e setembro de 2011, de 2.617 entrevistas realizadas com familiares de potenciais doadores em todo o país, 1.707 resultaram em negativa (quase duas negativas a cada três entrevistas).

Apesar dos desafios do crescimento, os números de doadores efetivos, em quem a retirada de órgãos foi autorizada e atendia aos critérios clínicos, vem aumentando. De janeiro a setembro de 2012, a média nacional atingiu 12,9 doadores efetivos por milhão de habitantes — mas ainda longe da média ideal de 30 por milhão que tem a Espanha, por exemplo.

José Medina avalia que, se o número de doadores e transplantes dobrasse hoje, acabariam as filas de espera no Brasil. Ele lembra, porém, que há diferenças regionais. Alguns estados têm médias altas, como Santa Catarina e Ceará, com 25,6 e 22,1 doadores por milhão registrados até setembro de 2012. Outros estados têm médias muito baixas. Amapá, Roraima e Tocantins ainda não concluíram a estruturação dos serviços de transplante.

A situação da espera também está relacionada ao tipo de transplante. No caso do transplante de córneas, Acre, Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal já conseguiram zerar as listas de espera. Já no caso do rim, a fila hoje é de cerca de 20 mil pessoas, em um número estimado de 91 mil pacientes em tratamento de hemodiálise.


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