Se o cidadão quiser conhecer e acompanhar informações sobre as finanças e os gastos com o funcionalismo do seu estado, por exemplo, terá que vasculhar dois enormes relatórios que são enviados periodicamente ao governo federal. Embora as informações sejam públicas, dificilmente ele conseguirá identificá-las e analisá-las, a menos que seja um especialista no tema.

 

Com o Portal Dados Federativos, que será lançado amanhã, o Senado dará uma grande contribuição para a transparência desses dados. Construído de modo bastante amigável e intuitivo, o sistema reúne, em um mesmo local, dados que hoje estão dispersos em várias bases, como a da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Alojado na página do Senado e com chamada no menu principal, o portal permitirá análises históricas e comparativas dos dados. O internauta poderá verificar, por exemplo, de modo bem simplificado e com interface agradável, se determinado estado está cumprindo os limites fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal para os gastos com pessoal e nas contratações de operações de crédito. “Há cerca de 250 consultas prontas e disponíveis no portal”, informa Daniella Guirelli, analista do Núcleo de Supervisão Técnica da Consultoria de Orçamentos.

 

Mas, além delas, o usuário poderá construir a própria consulta dentro do sistema, cruzando informações. Apenas para ilustrar, ele poderá cruzar dados do IBGE sobre população e sociedade com gastos nas áreas de educação e de saúde. Isso viabilizará, segundo Fernando Veiga, um dos consultores de Orçamento responsáveis pelo projeto, análises sobre a eficiência e a eficácia das políticas públicas e dos gastos estaduais. No futuro, acrescenta, outras bases de dados poderão ser incorporadas ao portal, como as informações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

 

Essa importante ferramenta para avaliar a situação das receitas e das despesas estaduais foi concebida a partir de demandas dos senadores, para auxiliá-los nas discussões sobre o endividamento dos estados, uniformização de alíquotas do principal imposto estadual, o ICMS, fim da guerra fiscal e outros assuntos relacionados ao pacto federativo e à reforma tributária. Os pedidos ao então presidente da Casa, José Sarney, acabaram resultando na proposta, formalizada pelo presidente Renan Calheiros, para a criação de um banco de dados socioeconômicos sobre os estados.

 

Não foi uma tarefa fácil. Durante seis meses, uma comissão de oito funcionários das Consultorias Legislativa e de Orçamentos e do Prodasen dedicou parte do seu tempo a construir o portal. O primeiro desafio, lembra o consultor de Orçamento, Orlando Neto, presidente da comissão, foi criar critérios de seleção que pudessem atender as necessidades dos parlamentares e de usuários potenciais, como instituições de ensino, entidades de pesquisa, mídia e cidadãos interessados nesse controle social.

 

O passo seguinte foi detectar em que bases estariam essas informações e criar ferramentas úteis e amigáveis para o manuseio desses dados, usando a mesma plataforma do Siga Brasil, com uma arquitetura de página simplificada, pouca intrusão visual e ícones autoexplicativos. Há, inclusive, um guia rápido para orientar a navegação nas diversas consultas do portal. A maior dificuldade foi a homologação dos dados. “Foi feita quase uma auditoria para checagem de dados e correção.

 

Estipulou-se uma codificação à semelhança do que existe para a área orçamentária”, lembra Veiga.
Esse trabalho foi fundamental para definir a série histórica utilizada. Portanto, o usuário não deverá estranhar que as informações do IBGE estejam disponíveis a partir de 2001, enquanto as dos dois relatórios da STN (o que resume a execução orçamentária dos estados, chamado pelos especialistas de RREO, e o que apresenta o demonstrativo da despesa com pessoal, o RGF) se iniciam somente a partir de 2007.

 

Além da avaliação criteriosa dos dados e da incorporação de novas bases, outra meta do portal é possibilitar cada vez mais a interligação das informações, conforme o consultor legislativo Paulo Springer, que também integra a comissão. “O objetivo é poder verificar se o gasto da saúde está sendo eficaz para reduzir a mortalidade infantil”, exemplifica.


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