“Não consigo ver filme nacional no cinema”, diz professor de Libras

Da Redação | 12/06/2012, 00h00

“Eu sou Saulo Machado, tenho 26 anos e nasci surdo. Uma das minhas paixões é o cinema. E é justamente no cinema onde mais encontro dificuldades. Os filmes brasileiros não têm legenda. Quando vou ao cinema, sou obrigado a assistir sempre às produções estrangeiras, que são legendadas.

Se me arrisco a ver um filme brasileiro, saio sem entender a história por completo. Eu entendo o contexto geral, mas não os detalhes. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Cidade de Deus. Pago caro e saio frustrado.

Gostaria muito de ver Xingu, mas vou ter de esperar o lançamento em DVD, que tem legendas, e assistir em casa. Mas não é a mesma coisa. A experiência de ir ao cinema é diferente, especial.

Muitas pessoas não sabem como lidar com o surdo. Há pessoas que, para chamar, cutucam. Há pessoas que falam muito rápido. Há pessoas que falam muito devagar. Há pessoas que gritam. Nada disso é necessário.

Fui oralizado: falo e faço leitura labial. Aprendi a Libras depois. Sendo bilíngue, tenho amigos surdos e amigos ouvintes.

Estudei em escola pública. Eu sempre tinha que sentar bem na frente, para poder enxergar os lábios da professora. Mesmo assim, era difícil. Eu precisava ter aulas de reforço para acompanhar a turma.

Hoje tenho dois diplomas — um de letras-inglês e outro de letras-Libras — e faço mestrado em Linguística na Universidade de Brasília. Sou professor de Libras.”

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)