A vacinação grátis no Brasil erradicou a coqueluche, mas a proteção dura até dez anos e a doença tem reaparecido em adultos, que viram transmissores
Marcio Maturana

Dezembro e janeiro exigem atenção às tosses. É nos meses de calor que surgem mais casos de coqueluche, doença que se considerava erradicada no Brasil, mas que vem reaparecendo principalmente em adultos. Como para eles os sintomas são mais brandos, muitas vezes a doença é confundida com resfriado e acaba sendo transmitida às crianças da casa, mesmo simplesmente ao se falar. Em 75% dos casos, recém-nascidos são contaminados por alguém da família.

As 15 mortes registradas no Brasil de janeiro a agosto deste ano foram de menores de 2 anos de idade. Nesses oito meses, houve 595 casos, contra 291 do mesmo período do ano passado. Mas os números verdadeiros são maiores, justamente pelas vezes em que a doença não é identificada. 

&#8212 Não é doença de verão, é um risco o ano inteiro. Mas ­aumenta mesmo em dezembro e janeiro, por motivos biológicos da bactéria &#8212 afirmou o presidente da Associação Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri.

Humberto Costa (PT-PE), presidente da Subcomissão de Saúde do Senado e ex-ministro da Saúde, acredita que a doença continua sob controle, mas garante que o Congresso está atento à questão.

&#8212 Acompanharemos a evolução da coqueluche e convidaremos os responsáveis, se for o caso. Acredito na capacidade de bloqueio de surtos de nossas vigilâncias &#8212 avaliou o senador.

A coqueluche voltou porque dura no máximo dez anos a proteção da vacina tríplice bacteriana (DTP), aplicada em três doses: aos 2, aos 4 e aos 6 meses de idade, com reforços aos 12 meses e aos 5 anos. No Brasil, essa vacina &#8212 chamada de tríplice porque também protege contra difteria e tétano &#8212 é grátis desde 1973. Segundo Kfouri, nem mesmo a resistência natural dos brasileiros foi estimulada para criação de anticorpos, porque gerações ficaram todo esse tempo sem contato com a bactéria.

&#8212 O sistema de vacinação pública do Brasil é o melhor do mundo &#8212 ressalta o pediatra Jayme Murahovschi, professor da Universidade Federal de São Paulo. A infectologista Denise Cordeiro, professora da Universidade de Brasília, reafirma o prestígio da vacinação pública e explica que o exame laboratorial de confirmação dura cerca de uma semana.

A bactéria da coqueluche só afeta humanos e se chama Bordetella pertussis. A toxina produzida por ela provoca tosses tão intensas que podem causar hemorragias nos olhos e no cérebro. Há registros de costelas quebradas devido à intensidade das tosses e perda de consciência.

 

 


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