Sala de exame deve ser adaptada a toda população, pedem médicos

Da Redação | 06/12/2016, 11h30

 

Hospital de Pernambuco participa do Outubro Rosa, que alerta para necessidade de diagnóstico precoce do câncer de mama. Foto: Hospital do Câncer de Pernambuco

 

Talvez você nunca tenha pensado nisso, mas as chances de uma mulher com deficiência física ter câncer de mama são as mesmas do que as das não deficientes. Por conta disso, a elas devem ser proporcionados meios de fazer o exame. A recomendação é do médico mastologista e professor da Universidade de Campinas César Cabello dos Santos. Para ele, as salas de exames de imagem devem ser equipadas com rampas e cadeiras especiais.

 

— Na sala do exame da mamografia, são necessárias algumas adequações para posicionar o paciente na máquina. O mamógrafo deve chegar à altura da mulher, no caso da cadeirante. As cadeiras devem se adequar às braçadeiras de forma a possibilitar rodar o aparelho e assim conseguir as melhores incidências para fazer o diagnóstico adequadamente — explicou o médico.

 

A adequação, de acordo com o mastologista, é essencial, uma vez que a mamografia é, por enquanto, o meio mais eficaz para diagnosticar precocemente nódulos nos seios. A mesma recomendação tem a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

 

Mortalidade

 

A entidade destaca que, a cada ano, mais de 12 mil brasileiras morrem de câncer de mama. Muitas dessas mortes, diz a SBM, poderiam ser evitadas. A maioria das mulheres, segundo a entidade, morre por falta de informação, já que poderia ter diagnosticado precocemente o tumor com o exame de mamografia, aumentando as chances de cura.

 

O mastologista César Cabello dos Santos acrescenta que cada meio centímetro no tamanho do nódulo representa um impacto muito grande na mortalidade por câncer de mama. A taxa de cura para as pacientes com tumores de menos de 1 centímetro é superior a 95%.

 

— É quase igual a não ter tido câncer. Além da chance de a mulher continuar viva e curada, são propiciados tratamentos menos invasivos. Um tratamento cirúrgico mais conservador. Uma quimioterapia, quando necessária, menos agressiva e outros tratamentos menos agressivos para a mulher. Tudo isso gera melhor qualidade de vida — diz o médico.

 

Diagnóstico

 

A Portaria 61/2015 do Ministério da Saúde determina que a mamografia para rastreamento de tumores nos seios deve ser feita no sistema público de saúde em mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. Os mastologistas discordam dessa determinação.

 

Para a SBM, as mulheres com idade entre 40 e 49 anos não podem ficar desamparadas. Em nota publicada neste ano, a Sociedade Brasileira de Mastologia indica que das 58 mil mulheres que desenvolverão câncer, um quarto terá entre 40 e 49 anos.

 

Em audiência pública, em outubro, na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, o presidente da SBM, Ruffo de Freitas Júnior, informou que 60% das mulheres que procuraram o Instituto Nacional do Câncer descobriram a doença sozinhas, pelo autoexame. Para ele, essa é uma demonstração de falhas no acesso à mamografia.

 

— Para mim é um absurdo! Quando nós falamos que a mulher apalpa o tumor, significa que nós falhamos em oferecer a essa mulher mamografia, de forma que pudesse ser detectado antes que ele se tornasse grande o suficiente para ela ter o tumor apalpado. Sessenta por cento é muita coisa — disse.

 

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do IBGE, divulgada em 2015 mostrou que 40% das mulheres brasileiras, de 50 a 69 anos de idade, não fazem mamografia. O estudo apontou ainda que as mulheres brancas (66,2%) e com ensino superior completo (80,9%) são as que mais se submetem ao exame.

 

As menores proporções são registradas com as mulheres negras (54,2%), pardas (52,9%) e com ensino fundamental incompleto (50,9%). Há também diferenças entre as regiões. A menor quantidade do exame foi feita no Norte (38,7%), seguido do Nordeste (47,9%), Centro-Oeste (55,6%), Sul (64,5%) e Sudeste (67,9%).

 

Acessibilidade

 

O estudo do IBGE não mostrou qual a quantidade das mulheres que fazem mamografia que têm deficiência motora. O coordenador de Promoção de Direitos de Pessoas com Deficiência do Distrito Federal, Paulo Beck, informou que, em Brasília e nas demais cidades do DF, estão sendo montadas estruturas para o atendimento.

 

— O que nós temos que preparar é um ambulatório para receber com dignidade a mulher com deficiência. A gente está construindo isso — afirmou Beck.

 

Desde 2015 estão instaladas no Recife unidades de saúde pública para as mulheres com deficiência. Lá podem ser feitos exames citopatológicos e mamografia com equipamentos adaptados.

 

A Prefeitura de São Paulo promoveu neste ano a 2ª edição do “Outubro Rosa para mulheres com deficiência — reconstruindo a vida”. Na capital paulista, as mulheres puderam fazer mamografia em aparelhos com acessibilidade em um hospital municipal.

 

A capital no Piauí, Teresina, também passou a contar, a partir de outubro, com um mamógrafo adaptado.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)