Faltam dados nacionais atualizados sobre o consumo de crack que comprovem estatisticamente a propalada ¿epidemia¿ da droga. Mas é certo que ela tem-se espalhado pelo país e que seu uso se acentuou. Os números oficiais, nos quais o Ministério da Saúde se baseia, fornecidos pelo Cebrid, são de 2005: 380 mil pessoas já tinham experimentado a droga no Brasil. Estimativa apresentada pelo psiquiatra Pablo Roig na semana passada, durante o lançamento da Frente Parlamentar de Combate ao Crack, é de que o número de usuários agora chega a 1,2 milhão.

A professora Solange Nappo, pesquisadora do Cebrid e especialista em crack, afirma que os números não são confiáveis e que a instituição está produzindo nova pesquisa nacional, que deve estar pronta em janeiro.

¿ A gente não tem o dado exato, mas a gente sabe que o consumo aumentou, porque antes era só em São Paulo e agora está em todos os estados ¿ afirma. 

A médica e senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), presidente da Comissão de Assuntos Sociais e vice-presidente da frente parlamentar contra o crack, aponta dados policiais que confirmam que ¿a droga avança em todo o Brasil¿:

¿ No Distrito Federal, as apreensões da droga aumentaram 175% de 2008 para 2009. Só neste ano, já foram apreendidos pela Polícia Federal na Paraíba mais de 47 quilos de crack, cerca de 60% a mais que o ano passado ¿ cita.

A senadora, assim como Solange Nappo, salienta outra mudança importante: se antes o crack era uma droga típica de moradores de rua, agora seu consumo perpassa as classes sociais. Solange observa que os usuários são majoritariamente jovens.

Murilo Vieira, do Instituto Potiguar de Prevenção e Combate às Drogas, que viaja frequentemente pelo interior do Rio Grande do Norte, afirma que o crack chegou às pequenas cidades nordestinas, carregando consigo o aumento da criminalidade em localidades antes pacatas.

¿ Começaram os roubos, os assaltos, as mortes, tudo isso relacionado ao crack. É devastador mesmo.

Baixo preço

Uma pedra de crack em Natal custa apenas R$ 5, mas os traficantes passaram a dividi-las, cobrando R$ 3, informa Murilo. O valor irrisório, no entanto, é ilusório, pois, com o consumo compulsivo a que a droga impele, a despesa do usuário acaba sendo muito alta, maximizando o lucro do tráfico. Solange Nappo explica que, por trás da expansão do crack, está o interesse mercadológico dos traficantes, que focam a oferta da pedra, em detrimento do pó, menos rentável.

¿ O crack é lucrativo porque é certo que a pessoa que usa vai ter de usar novamente e, de cinco em cinco minutos, ela vai consumir. A médio prazo, o gasto do usuário é muito maior que o do usuário de cocaína em pó  ¿ alerta.


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