Salva-vidas de clube de Brasília usa bloqueador solar, chapéu e óculos escuros: proteção completa
Ricardo Westin

Na literatura médica, vêm-se tornando frequentes os estudos que se utilizam de fotos de gêmeos idênticos para confirmar o quão devastadora para a pele é a radiação solar. São imagens que quase sempre mostram os irmãos acima dos 50 anos. Um deles passou a vida toda exposto ao sol sem proteção. O outro sempre usou filtro solar, chapéu, óculos escuros ou roupa de manga comprida (veja um dos estudos abaixo, no Saiba Mais). 

A foto do primeiro gêmeo, quando é apresentada sozinha, não diz muito. Posta lado a lado com a do irmão, torna-se assustadora. Ante o rosto poupado do sol, o gêmeo descuidado parece terrivelmente envelhecido, tomado por manchas acastanhadas e rasgado por rugas. Por serem gêmeos idênticos, tem-se a impressão de que são a mesma pessoa &#8212 só que fotografada em momentos diferentes da vida, com intervalo de uma ou até duas décadas.

Apesar de estudos desse tipo serem mais frequentes e mais noticiados, a mensagem parece ainda não ter sido compreendida. Levantamento feito no ano passado pelo Ministério da Saúde em todas as capitais do Brasil mostrou que menos da metade dos habitantes (45%) se protege da radiação. O sol não é visto como perigoso.

Bronze artificial

De fato, as dolorosas queimaduras após um dia de praia ou as rugas e manchas precoces são os menores dos males. Quem toma sol em excesso e sem proteção tem grandes chances de sofrer de câncer de pele, doença agressiva que, não sendo diagnosticada e tratada a tempo, provoca mutilações e até a morte. De todos os cânceres, o de pele é o que mais acomete o Brasil. A cada cem tumores detectados, 23 são na pele. Foi por essa razão que, dois anos atrás, a Vigilância Sanitária baniu do país as câmaras de bronzeamento artificial.

Durante o dia, ao ar livre, a pele é constantemente atingida por dois tipos de raio ultravioleta. O UVA penetra fundo na pele e ataca as fibras que lhe dão elasticidade. É a falta de elasticidade que torna a pele enrugada. O UVB atinge só a superfície da pele, mas tem a capacidade de danificar o DNA das células cutâneas. Esses danos são os responsáveis pelas mutações que transformam células sadias em cancerosas.

Os filtros solares protegem tanto da radiação UVA quanto da UVB. Desempenham dois papéis simultâneos: refletem parte dos raios (proteção física) e "digerem" outra parte (proteção química), impedindo que cheguem à pele. Muitas vezes utilizam-se as palavras bloqueador e filtro como sinônimos. É um equívoco. O bloqueador solar é aquele creme que não se dissolve e deixa uma crosta branca na pele. Faz só a proteção física. Por ser desconfortável, embora eficaz, vem sendo usado cada vez menos.

A pesquisa que verificou que só 45% dos brasileiros se protegem do sol pode ocultar um problema ainda maior. As pessoas costumam cometer muitos erros ao usar o filtro solar &#8212 erros que podem torná-lo simplesmente inútil. Um deles é economizar na dose. Para garantir proteção, a quantidade aplicada à pele precisa ser generosa. Outro erro é aplicar o produto quando já se está na praia. O filtro precisa de meia hora para fazer efeito. Além disso, há pessoas que passam o filtro uma só vez e ficam horas sob o sol. Mais um equívoco. É preciso reaplicá-lo a cada duas horas. Suando ou entrando na água, o intervalo fica menor.

Certos mitos também precisam ser derrubados. O filtro solar deve, sim, ser usado em dias nublados. Os raios ultravioleta conseguem ultrapassar as nuvens. Ficar debaixo do guarda-sol não é razão para dispensá-lo. Parte da radiação é refletida pelo solo e atinge quem está à sombra. O sol das 10h às 16h é o mais forte e deve ser evitado a todo custo. Isso não quer dizer que se pode tomar o sol da primeira hora da manhã sem filtro. Os raios UVB (que causam o câncer) são, de fato, mais fortes entre 10h e 16h. Mas os raios UVA (que envelhecem a pele) bombardeiam a Terra com a mesma força do amanhecer ao anoitecer.

Apesar da inquestionável utilidade do filtro solar, o dermatologista Marco Antonio de Oliveira, do Hospital A. C. Camargo (antigo Hospital do Câncer), de São Paulo, esclarece que o produto não é um salvo-conduto para quem quer passar o dia torrando sob o sol:

&#8212 Não é armadura. Filtra os raios. Embora em menor quantidade, continuam entrando na pele. É preciso ter bom senso: evitar o horário de pico [das 10h às 16h], usar o filtro corretamente e não ficar tempo demais ao sol. O sinal de que se exagerou é dado pela própria pele, queimada e ardida.

O médico Gilvan Alves, presidente da regional Distrito Federal da Sociedade Brasileira de Dermatologia, crê que os 45% que se protegem do sol se tornarão um grupo mais numeroso. Para ele, é apenas questão de tempo.

&#8212 No passado, era charmoso fumar. Com o tempo, a sociedade percebeu que era um veneno. E, hoje, o tabagismo está em declínio. O mesmo vai acontecer com o sol. A sociedade vai se dar conta de que pele bronzeada não é sinônimo de saúde. Essa moda de modelo moreninha de sol vai passar.

 

 


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