Baixa qualidade no ensino é barreira para ampliar público leitor
Da Redação | 02/02/2015, 23h00
Para a escritora Lucília Garcez, doutora em linguística aplicada pela Universidade de Brasília (UnB), o interesse dos jovens e adultos pela literatura começa na escola, que não cumpre seu papel.
— A escola funciona mal como formadora de leitores. Ela não é capaz de desenvolver na criança uma leitura proficiente, a criança não sai da escola dominando a leitura e os professores não são bons formadores de leitores. Eles não levam a criança a descobrir a leitura como uma fonte de prazer, a descobrir a leitura como uma fonte de conhecimento, como uma fonte de crescimento. Então, a escola falha — diz a escritora, que possui 17 livros publicados, entre eles Técnica de Redação.
Auto Ajuda
Um dado que chama a atenção é a queda no índice de leitura a partir dos 25 anos de idade. Na faixa até 24 anos, 49% dos entrevistados disseram ser leitores, mas, dos 25 aos 70, o percentual de não leitores foi de 75%.
— Outra falha da nossa escola é essa: por que ela estimula a leitura durante a escolarização e essa leitura não é duradoura? Não permanece? A pessoa não cria o hábito de ler duradouro, para o resto da vida — questiona Lucília Garcez.
O senador Cristovam Buarque, que tem um mandato fortemente ligado à educação, aprofunda a crítica à qualidade do ensino.
— Dizem por aí que nós temos 95% das crianças na escola. Não são escolas. São uns prediozinhos muito ruins, feios e sujos, com algumas pessoas dedicadíssimas, que a gente chama de professor — aponta.
A pesquisadora Zoara Failla tem opinião semelhante:
— O perfil do professor é muito parecido com o da população como um todo. Se perguntado sobre o último livro que leu, geralmente é de autoajuda, religioso. Ele tem um repertório muito limitado e isso dificulta a indicação de livros de acordo com os interesses das crianças e jovens, que são diferentes em diferentes regiões.
Redes Sociais
Lucília Garcez também aponta o Facebook como uma possível causa da queda no número de leitores no Brasil.
— A pesquisa não investigou isso, mas eu conheço pessoas que passam um tempo enorme na frente do computador — avalia.
Para Zoara Failla, o uso de novas tecnologias pode dificultar a aproximação dos livros por quem ainda não foi despertado pelo gosto da leitura. Ela até admite que as pessoas que passam muito tempo na internet têm, por exemplo, o acessso facilitado aos e-books, os livros eletrônicos. Mas, na opinião da pesquisadora, essa facilidade não leva obrigatoriamente à leitura.
Já o senador Cristovam Buarque acredita que a internet e as redes sociais não devem ser consideradas vilãs.
— Se a gente tem uma boa escola, o Facebook vai ajudar as pessoas a ler. Porque você passa a ler pelo computador. A gente tem que colocar mais livros dentro do IPad, mais livros dentro do Kindle e mais formas de educar as crianças a usarem a internet — alerta.
O jornalista e escritor José Godoy, que responde pela 2345678 Clube do Livro, na Rádio CBN, avalia que as redes sociais ajudam na divulgação dos autores e livros.
— Não podemos tratar de forma rasa, culpando a internet e as redes sociais, pois o indivíduo tem múltiplos interesses e consome a cultura de forma individual — argumenta.
Godoy lembra que, nos Estados Unidos, um levantamento feito pela empresa Nielsen, em dezembro do ano passado, mostrou que, mesmo sob forte influência das redes sociais, os jovens e as crianças leem mais por lá.
A pesquisa Children´s Book Summit revelou que o mercado norte-americano de livros infanto-juvenis aumentou 44% na última década. Também apontou que 67% dos entrevistados disseram ler por prazer e que metade afirmou preferir o livro de papel ao e-book.
Ainda de acordo com o levantamento, na faixa etária entre zero a 10 anos de idade, a principal fonte de lazer é o livro. A partir dos 11 anos, a TV e os games começam a dominar o tempo livre da criança. Godoy compara com o Brasil:
— Infelizmente, estamos num país no qual o livro não faz parte do nosso horizonte cultural. Todo mundo tem uma ligação com a música, já teve uma experiência com o cinema, mas o livro não faz parte desse horizonte — destaca.