CPI: Wesley Cardia se cala sobre suposto pedido de propina de parlamentar

Da Agência Senado | 06/08/2024, 19h26

Em depoimento como testemunha à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, o ex-presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) Wesley Cardia permaneceu calado em várias perguntas dos senadores referentes a um suposto pedido de propina feito à associação em troca de proteção na CPI das Apostas Esportivas da Câmara dos Deputados em 2023. A reunião foi conduzida pelo presidente da comissão, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

— Vou permanecer em silêncio — disse o depoente, quando o senador Eduardo Girão (Novo-CE), vice-presidente da comissão, lhe perguntou se o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), relator da CPI da Câmara, realmente pediu propina de R$ 35 milhões para ajudar a ANJL naquela comissão parlamentar de inquérito.

Autor do requerimento de convite a Cardia para depor, Girão explicou que a revista Veja publicou reportagem em setembro de 2023 sobre o alerta feito pelo ex-assessor especial do Ministério da Fazenda José Francisco Manssur ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o suposto pedido de propina.

Em depoimento à CPI em 2 de julho, Manssur confirmou que recebeu Cardia em seu gabinete e ouviu o relato do suposto pedido de vantagem financeira, mas ressalvou que não tinha meios de confirmar se a informação era verdadeira.

Cardia também recusou-se a responder se recebeu outros pedidos de propina ou se sofreu ou está sofrendo ameaças ou pressão de parlamentares. O depoente respondeu a algumas perguntas feitas pelo relator do colegiado, o senador Romário (PL-RJ). Cardia depôs à CPI amparado em habeas corpus do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino que garantiu a ele o direito ao silêncio.

— O senhor não confirma a matéria da revista Veja. Aliás, o senhor permanece em silêncio, não diz que confirma, nem que "desconfirma". O senhor foi procurado pelo deputado Felipe Carreras, que lhe fez uma proposta de cobrança de propina no valor de R$ 35 milhões em troca de ajuda e proteção na CPI das Apostas da Câmara dos Deputados? — insistiu Girão.

— Lamento, senador, mas vou permanecer em silêncio — repetiu Cardia.

Após as negativas, Girão apresentou requerimentos pedindo que Cardia passe a ser investigado pela CPI e que seus sigilos sejam quebrados. Os requerimentos ainda terão que ser votados pela comissão.

Também depôs à CPI como convocado Anderson Ibrahim Rocha. Representante da empresa Air Golden — ex-gestora do futebol do Clube Atlético Patrocinense (MG) —, Anderson Ibrahim disse não ter conhecimento sobre a suspeita de manipulação na partida em que o Patrocinense perdeu por 3 a 0 para o Inter de Limeira pela Série D do Campeonato Brasileiro, em 1º de junho de 2024. A partida está sendo investigada pela Polícia Federal na Operação Jogo Limpo, com base em movimentação suspeita em casas de apostas. 

Segundo ele, na época desse jogo o Patrocinense passava por uma “bagunça administrativa” e escalou jogadores fora de suas posições originais para a partida por falta de elenco. Ele disse a Romário que não assistiu ao jogo ao vivo, mas viu os lances dos gols posteriormente e acha que os jogadores falharam nas jogadas. Anderson afirmou não ter motivos para acreditar em manipulação do resultado e disse não ter recebido qualquer denúncia neste sentido.

— Dentro desse inquérito constam algumas alegações que prontamente eu conseguiria rebater que não são verdadeiras. Lá, diz-se que eu montei o elenco de forma autoritária, sem aceitar indicações, sem ouvir parte da direção do clube, e isso não é verdade, porque eles indicavam atletas, eles participaram (...) Não vinha sendo feita uma boa administração do clube, não vinha sendo feita uma boa gestão da instituição. Eles pecaram com pagamentos, eles pecaram com a logística, eles pecaram com administração de grupo, tomadas de decisões.

Requerimentos

Na primeira parte da reunião, a CPI aprovou oito requerimentos. Um deles convoca, na condição de investigada, Camila Silva da Motta, alvo de denúncia criminal no âmbito da Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), que investiga a manipulação de resultados em apostas esportivas.     

“A operação Penalidade Máxima revelou a existência de uma organização criminosa especializada na manipulação de apostas esportivas, atuando em Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Maranhão. A investigação mostrou detalhes de uma complexa organização criminosa em rede, com divisão de tarefas e núcleos de atuação: aliciadores, financiadores, apostadores e jogadores aliciados. Camila Silva da Motta é descrita nos autos da operação como integrante do núcleo administrativo, recebendo e fazendo pagamentos e executando tarefas diversas dentro da organização criminosa, como pessoa física ou através da empresa da qual é sócia, juntamente com o seu marido, o líder da organização criminosa, Bruno Lopez de Moura”, diz Romário, autor do requerimento de convocação

Também foi aprovado convite para prestar depoimento à CPI, como testemunha, o ex-árbitro de futebol Péricles Bassols, integrante da equipe do VAR da CBF. O autor do convite é o senador Eduardo Girão. O depoente deverá prestar informações sobre dois lances que ocorreram em duas partidas da 16ª rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2024.

Outro requerimento aprovado, do senador Carlos Portinho (PL-RJ), convida para comparecer à CPI o procurador-geral da República, o diretor-geral da Polícia Federal e o diretor-geral da Receita Federal para prestarem informações sobre como o Brasil está se organizando para combater a manipulação das apostas esportivas. 

Também foram aprovados outros requerimentos de Portinho que pedem informações à CBF, à Receita Federal, à empresa SportRadar e ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)