Em diligência no Pará, CPI das ONGs apura denúncias de abuso de poder

Da Agência Senado | 29/11/2023, 18h44

A CPI das ONGs promoveu nesta quarta-feira (29) reunião e diligência em São Félix do Xingu (PA) para ouvir depoimentos e apurar possíveis abusos na retirada de colonos da Terra Indígena Apyterewa. O presidente da comissão é o senador Plínio Valério (PSDB-AM). Esta foi a última diligência externa da CPI, que deve concluir seus trabalhos nas próximas semanas.

Além de Plínio Valério, integram a comitiva o relator da CPI, senador Marcio Bittar (União-AC); o vice-presidente da CPI, senador Jaime Bagatolli (PL-RO); e os senadores Zequinha Marinho (Podemos-PA), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Styvenson Valentim (Podemos-RN). Eles ouviram pessoas da Vila Renascer, que fica dentro da terra indígena, para apurar a situação da desintrusão do território. De acordo com Plínio Valério, moradores estão sendo expulsos de suas terras sob forte repressão da Força Nacional e de órgãos ambientais. A operação consiste na retirada de não indígenas das terras Apyterewa.

O senador já enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma denúncia que aponta os supostos abusos praticados por agentes públicos da Força Nacional, da Funai, do Ibama e do Incra na expulsão de colonos na região. Para Plínio Valério, há fortes indícios da interferência de ONGs na ampliação e desintrusão da terra indígena. Na terça-feira (28), o ministro Nunes Marques, do STF, suspendeu a operação em Apyterewa. O ministro atendeu ao pedido da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Projeto Paredão e da Associação dos Agricultores do Vale do Cedro. 

Na decisão, Nunes Marques determinou "a imediata paralisação" de todos os atos, "especialmente as providências coercitivas de reintegração adotadas por forças policiais, assegurando aos colonos, assim, o livre trânsito, na área objeto de impugnação, com seus pertences e semoventes".

O prefeito de São Félix do Xingu, João Cléber, se disse aliviado pela decisão do Supremo de suspender a desintrusão.

— Temos que acabar com essa questão que uma ONG faz um laudo antropológico, a Funai dá entrada no Ministério da Justiça, homologa e vira área indígena. Tem que acabar com isso. É muito fácil criar uma área indígena hoje. Não podemos aceitar. Temos aqui 51% de área indígena e 22% de preservação ambiental, e mesmo assim a nossa população tem o maior rebanho bovino per capita do país. Aqui tem gente trabalhadora — afirmou o prefeito.

Ele e outros participantes da reunião da CPI cobraram a revisão do laudo antropológico que resultou na retirada de pessoas da região. Alguns depoimentos apresentaram denúncias de violência, repressão, abandono de animais, derrubada de casas e abusos psicológicos praticados nas ações do poder público para a retirada de pessoas da terra indígena. Quase mil moradores participaram do evento. Muitos deles disseram morar há mais de 30 anos na região.  

— Queremos estabelecer a verdade. Viemos conversar com essa gente, que tem direito à terra, direito à moradia, direito ao chão que pisa. Queremos justiça para essa gente. Nós somos representantes da população, e é isso que a população da Vila Renascer deseja — afirmou Plínio Valério.

O presidente da Associação Vale do Cedro, Vicente Paulo, disse que a população não quer expulsar os indígenas, mas cobrou apoio às mais de 2 mil famílias da região.

A produtora agrícola Abadia Aparecida Mendonça denunciou que os agricultores estão sendo “tratados como bandidos”, mesmo aqueles que moram há décadas no mesmo lugar.

— Eu quero pedir que olhem por nós, pois os hectares dos índios estão lá, estamos lutando pelo nosso. Não somos invasores; quem é invasor é a Funai, quando eles chegaram, já estávamos lá — disse.

O indígena Karê Parakanã, da comunidade Parakanã, também acusou a Funai de promover conflitos entre indígenas e colonos e disse que a população indígena está abandonada.

— Nós precisamos de estrutura dentro da nossa comunidade, precisamos de água potável, escola para as nossas crianças, saúde para todos nós. Estou aqui para falar da nossa realidade — afirmou.

Ao encerrar a reunião, Plínio Valério criticou a atuação de ONGs na região.

— O preço que exigem para cuidar da Amazônia é a nossa pobreza e a nossa miséria, enquanto as ONGs dominam a região. Covardes, em nome de um mandado da Justiça, praticam a injustiça o tempo todo. São hipócritas. Estamos aqui com vocês, e esses hipócritas estão em Dubai falando em nosso nome. São jatos indo para Dubai, e nós é que somos culpados, Apyterewa é culpada. O recado é: vocês não estão sós, a dor de vocês é a nossa dor e nós vamos levar adiante a dor que vocês estão sentindo — afirmou, referindo-se à COP 28, a Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)