Extinção da Funasa divide opiniões na Comissão de Infraestrutura

Da Agência Senado | 29/03/2023, 16h00 - ATUALIZADO EM 30/03/2023, 09h50

A extinção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) por meio da Medida Provisória (MP) 1.156/2023 dividiu opiniões em audiência na Comissão de Infraestrutura (CI) nesta quarta-feira (29). Enquanto representantes do governo defenderam a extinção do órgão e a realocação de seus funcionários e programas nos ministérios da Saúde e das Cidades, senadores e servidores da Funasa criticaram a proposta. A MP ainda aguarda a designação de senadores e deputados para a comissão mista.

A reunião foi conduzida pela senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), uma das signatárias da audiência pública. A parlamentar disse estranhar que o governo Lula tenha optado pela extinção da Funasa. Para ela, a fundação tem o potencial de ação social que, a seu ver, o governo tenta dar à gestão pública nos próximos quatro anos. Daniella criticou fortemente o desmonte que a Funasa já vem sofrendo — antes mesmo da votação da MP — e garantiu que esse desmonte não irá influenciar os parlamentares.

— O desmonte não intimida nenhum senador ou deputado. Se estão desmontando, a decisão final será do Parlamento e, dependendo do nosso texto final, vão ter que remontar a Funasa talvez até mais estruturada do que estava. Além disso, a extinção da Funasa traz desemprego sim, porque os terceirizados e as milhares de parcerias com municípios vão ser prejudicados.

Daniella também concordou com a proposta do senador Cleitinho (Republicanos-MG) para que uma comissão da CI se reúna com o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, visando articulações para derrubar a MP 1.156.

Para a senadora Tereza Cristina (PP-MS), o Parlamento deve reforçar o orçamento da Funasa, e não extingui-la. Já Izalci Lucas (PSDB-DF) teme que passar as políticas públicas da Funasa para os ministérios prejudicará ainda mais o cenário de saneamento básico, já que a seu ver as pastas federais tem como marca registrada "o excesso de burocratismo" e a infraestrutura pouco capilarizada.

Soraya Thronicke (União-MS) foi outra que reclamou que a maioria dos prefeitos faz críticas à burocracia nas parcerias com os ministérios. O presidente da CI, senador Confúcio Moura (MDB-RO), não descarta que a MP 1.156 nem sequer seja votada, diante do impasse em torno da tramitação das MPs que envolve Senado e Câmara. Se a MP perder a validade por não ser deliberada em até 120 dias (caso o prazo de 60 dias seja prorrogado), a Funasa não será extinta.

A visão do governo

Representante do Ministério das Cidades, Jamaci Avelino do Nascimento Júnior alegou que os indicadores de desempenho de saneamento da Funasa não convergem com as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), conforme acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU). Há uma elevada chance das metas de cobertura de esgotamento sanitário rural e de universalização do abastecimento de água dos domicílios rurais não serem alcançadas, segundo o servidor.

Nascimento Júnior acrescentou que a Funasa não desenvolveu estratégias para enfrentar a estimativa de redução de 90% no seu quadro de pessoal nos próximos quatro anos, o que põe em risco sua viabilidade operacional. Ele alegou ainda que "a estratégia da Funasa para enfrentar o cenário de escassez de recursos orçamentários podia colocar em risco o cumprimento das metas do Plansab em si, que são de universalização do acesso à água, do esgotamento sanitário, resíduos sólidos, drenagem, etc.".

Ainda com base nos acórdãos do TCU, Avelino pontuou que a atuação da Funasa não tem sido suficiente para controlar doenças decorrentes do saneamento inadequado. Segundo o representante do Ministério das Cidades, o acórdão aponta que a Funasa não tem critérios de prioridade para beneficiar as cidades mais carentes. Ele também lembrou que pesquisa do TCU, com cerca de 1,2 mil prefeitos, apontou que muitos gestores municipais estariam insatisfeitos com a atuação da fundação.

Avelino defendeu que o deslocamento de parte das políticas da Funasa para o Ministério das Cidades possibilitará um programa estratégico de investimentos em infraestrutura, potencializando as parcerias público-privadas. Outro ponto positivo seria retomar o papel do setor público como indutor do investimento nesta área, segundo ele. 

Secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Elton Bernardo de Melo afirmou que na reorganização por que passa a pasta, caberá ao ministério gerenciar a cooperação com estados e municípios nas ações de epidemiologia, laboratório e demais ações de prevenção e controle de doenças.

Já o secretário-executivo adjunto do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Adauto Modesto Júnior, frisou que nenhum servidor da Funasa terá perda financeira com a extinção do órgão.

— E os servidores vão poder solicitar alteração da sua lotação caso não concordem com a maneira como a distribuição inicial foi feita pelo governo — afirmou Modesto Júnior.

Caberá à pasta da Gestão definir, por meio de ato, a transferência gradual da estrutura, do patrimônio, do acervo, do pessoal e dos contratos da Funasa para os os demais ministérios.

Críticas à extinção

Os servidores da Funasa presentes à reunião criticaram fortemente a extinção do órgão. Eles informaram que somente no ano passado foram atendidas cerca de 1,5 mil comunidades. 

O servidor Renan Lange propôs que haja um debate com os principais atores da política pública, como as entidades de classe, representantes dos serviços de saneamento, gestores locais e a própria sociedade.

— Um debate qualificado com essas entidades que se manifestaram a favor da manutenção da Funasa no SUS, no Ministério da Saúde, acerca dos melhores rumos para a política pública de saneamento e de saúde. Há muito trabalho a ser feito, em especial se a gente quiser concluir, atingir as metas de 2030 e 2033.

Também servidora da Funasa, Helena Magalhães Lira disse que nunca houve conversa do governo com os servidores. 

— Nós não tivemos espaço de conversa, nós não fomos ouvidos, nós não fomos consultados, nós não fomos respeitados; nós estamos sendo obrigados a sair de nossas mesas aqui, nós estamos sofrendo assédio.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)