Empreendedorismo digital precisa de plano de capacitação para avançar no país, aponta debate
Da Agência Senado | 10/12/2021, 13h00
A ausência de um plano estruturado de ensino e capacitação profissional que permita aos jovens avançar no empreendedorismo digital foi uma das preocupações levantadas pelos participantes da audiência pública promovida pela Comissão Senado do Futuro (CSF) nesta sexta-feira (10).
Para o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), autor do requerimento para realização do debate, o Brasil vive hoje um “apagão” de mão de obra qualificada para preencher as mais de 500 mil vagas disponíveis no setor de tecnologia e informação, o que vem dificultando o crescimento do setor no país. Ele também citou a falta de capacitação para o empreendedorismo.
— A educação financeira, a capacidade de elaboração de um projeto de negócio, o estudo de viabilidade e potencial de mercado, o entendimento das possibilidades e responsabilidades jurídicas, o conhecimento técnico dos indícios de viabilidade e falência de negócios são conhecimentos instrumentais importantes para qualquer empreendedor. Infelizmente, são etapas da elaboração de um negócio frequentemente negligenciados no Brasil e um dos motivos para que os empreendedores, mesmo adultos, não obtenham êxito em seus negócios — disse Izalci.
Na avaliação da senadora Zenaide Maia (Pros-RN), o que falta ao país é “decisão política” que priorize investimento em educação, ciência e tecnologia. Ela criticou os cortes de recursos federais para essas áreas.
— Nós temos os institutos federais de educação profissional, que são de excelência. Mas, infelizmente, estão sendo retirados recursos, eles não estão conseguindo mais laboratórios de eletrônica, informática, e a gente sabe que precisa disso.
Presidente do Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social, Gilberto Lima Junior, que está à frente de projetos que buscam desenvolver soluções com inovações tecnológicas, destacou que, das dez maiores empresas no mundo, oito são de tecnologia. Ele alertou para o fato de que as transformações no mercado de trabalho estão avançando de forma rápida; no entanto, o Brasil não acompanha essas inovações, ao manter uma estrutura muito defasada para as necessidades do mundo digital. De acordo com Lima Junior, é preciso que os jovens, com suas demandas e anseios, possam participar de forma mais direta da elaboração dessas políticas públicas, apresentando os caminhos que eles querem e precisam seguir.
— Nós estamos falando no campo da genética, biotecnologia, nanotecnologia, os campos da engenharia, tudo o que diz respeito à manufatura da indústria 4.0, a robótica que vem com tudo, a inteligência artificial, a corrida espacial. São muitos os campos que abrem oportunidades. A dificuldade vai ser sempre como educar entre 400 mil e 500 mil profissionais de tecnologia da informação; é a carência que o setor tem. Há um gigantesco desemprego no país, e a gente não consegue ocupar as vagas de tecnologia porque o foco da educação ainda não consegue chegar na formação, na preparação de quem precisa.
Economia criativa
O diretor de Comunicação e Marketing e Relações Exteriores da plataforma de conteúdos Hotmart, Leandro Conti, ressaltou a importância de um novo setor: a economia criativa. Ele explicou que, com a chegada das redes sociais, as pessoas e empresas começaram a se dedicar a esse espaço para produzir conteúdo de qualidade na internet, com o objetivo de mudar a vida das pessoas por meio de inúmeros canais que oferecem de dicas e informações a cursos online de muita qualidade. Segundo Conti, a previsão é que a área de tecnologia disponibilize, nos próximos anos, mais de 800 mil novas vagas, sendo muitas delas no setor da economia criativa. Para ele, o desenvolvimento de políticas públicas é necessário para fazer com que essa área avance ainda mais no país, gerando emprego e renda, principalmente entre os jovens.
— As pessoas estão cada vez mais dispostas a pagar por conteúdo de conhecimento na internet. Uma tendência que vem se acelerando. No passado, as pessoas não estavam dispostas a pagar por notícias, por entretenimento, por conhecimento, mas hoje isso vem crescendo. Por quê? Porque ao pagar por isso (...) ela recebe conteúdo de melhor qualidade e de maior sustentabilidade daquele conhecimento, e o criador de conteúdo passa a se dedicar mais àquilo e entrega mais conteúdo para quem consome.
Burocracia
Vice-presidente da Zapay Serviços de Pagamentos — plataforma conectada a 25 Detrans do Brasil e que permite o parcelamento de débitos referentes aos veículos —, Pedro Vogado disse que a necessidade de desburocratização dos serviços públicos e o interesse por gestão eficiente fizeram com que a ferramenta fosse criada e tenha sucesso.
Ele informou que a plataforma já conseguiu arrecadar mais de R$ 500 milhões para os órgãos de trânsito, oferecendo um sistema centralizado, sem burocracia e ágil ao cidadão, que escolhe a forma como quer pagar seus débitos. Para Vogado, essa demanda por agilidade atrelada a um sistema burocrático exige formação qualificada para mudar a realidade do país.
— Nós estamos sempre com processo seletivo aberto para programadores, desenvolvedores, e a gente observa que cada vez mais é um mercado escasso, com poucos profissionais no Brasil. Hoje a gente vê uma tendência muito forte, inclusive, de empresas pegando profissionais de países de terceiro mundo, esses desenvolvedores, para trabalharem de forma remota.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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