Desinformação e fake news são entraves no combate à pandemia, aponta debate

Da Agência Senado | 05/07/2021, 12h07 - ATUALIZADO EM 05/07/2021, 12h45

Tão rápidas e destrutivas quanto o próprio coronavírus, as notícias falsas (fake news) têm prestado um grande desserviço no enfrentamento à pandemia, enquanto, na contramão, as campanhas de comunicação sobre a covid-19 caminham a passos lentos. Essa discrepância foi destacada por senadores que debateram o assunto em reunião na Comissão Temporária da Covid-19 (CTCOVID), nesta segunda-feira (5).

Relator da comissão, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) ressaltou que o assunto é de grande preocupação para todos.

— O esclarecimento da população é fundamental, principalmente nessa questão, que a cada dia tem informações desencontradas. Essas informações, corretas ou incorretas, podem salvar vidas ou contribuir para a doença e a morte.

O senador destacou que a infodemia, definida como excesso de informação, torna difícil encontrar fontes idôneas, o que colabora para a desinformação da sociedade. Ele lembrou que 132 países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) ratificaram, à exceção do Brasil, uma declaração para o combate a essa propagação infodêmica.

Wellington enfatizou que há inclusive participação de agentes ou instituições públicas na divulgação de notícias falsas ou desencontradas, além de omissão na divulgação de informações necessárias para o combate à crise pandêmica.

Abin

Diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Frank Márcio de Oliveira observou que as notícias falsas não são um fato novo e foram amplamente utilizadas em campanhas eleitorais em todo o mundo.

— Atualmente, o aumento de fake news ocorre por conta da própria agilidade das redes sociais. Não existe vácuo informacional: as pessoas preferem compartilhar notícias falsas a admitir desconhecimento sobre o assunto.

Segundo Oliveira, a Abin coopera com serviços estrangeiros de forma rotineira e reforçou o intercâmbio na temática da saúde, tendo como um dos principais focos as estratégias de enfrentamento à desinformação e as campanhas de vacinação.

Oliveira afirma que parte das campanhas de desinformação (caracterizadas pela produção e propagação massiva de notícias falsas) tem entre seus objetivos manipular a opinião pública e desprestigiar as instituições, bem como obter vantagens econômicas ou políticas.

Para o diretor da Abin, o Senado teve um importante papel ao aprovar o Projeto de Lei (PL) 2.630/2020. Conhecido como projeto de Lei das Fake News, o texto está agora em tramitação na Câmara.

Campanhas anticovid

Diretor de mídias da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do Ministério das Comunicações, Ricardo de Freitas Martins da Veiga afirmou que desde fevereiro de 2020 o governo federal investiu cerca de R$ 400 milhões em campanhas anticovid.

— A Secom começou com suas campanhas em fevereiro de 2020, ainda fazendo um esclarecimento sobre o novo vírus e medidas de prevenção e orientações nos casos de suspeita de contágio, com ações em TV, rádio, internet, mídia exterior.

Já o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo de Sousa, destacou que a imprensa acompanhou as orientações da ciência, o que “infelizmente não foi o caminho adotado pelo governo Bolsonaro, que escolheu o negacionismo”.

— Isso resultou em imensa tragédia. Diversos estudos apontaram que muitas perdas poderiam ter sido evitadas se as orientações da ciência fossem seguidas.

A redução orçamentária na educação e no setor de ciência e tecnologia é um sério problema, em especial no período pandêmico, segundo o presidente da ABI. Sousa destacou ainda o fato de 164 jornalistas brasileiros já terem perdido a vida para a covid-19.

Plataformas digitais

Os veículos de comunicação no Brasil foram muito atuantes nos seus noticiários na divulgação de orientações sobre a covid-19, na opinião do fundador da Arko Advice, Murillo de Aragão.

Porém, as plataformas digitais (Twitter, YouTube, Facebook, entre outras), segundo Aragão, têm apresentado resistência em assumir compromissos no combate às notícias faltas, apesar de já estarem trabalhando com alertas sobre a doença e já terem iniciado alguns cuidados após a utilização em massa das redes sociais para fins eleitoreiros.

— A pandemia trará mudanças de comportamento muito sérias na sociedade, que não deve voltar a funcionar da mesma forma até que a questão da covid esteja completamente resolvida. Tudo tem a ver com a educação.

Para Aragão, “fracassamos em obter da sociedade um comportamento que colaborasse para o enfrentamento à covid-19”.  Ele afirmou ainda que houve dúvidas, por parte do governo, sobre como combater a covid-19, com a propagação de orientações como o uso de “tratamento precoce”.

Vacinação

A vacinação anticovid tem sido alvo frequente de fake news, o que prejudica muito o avanço do percentual de pessoas imunizadas, afirmou a secretária de Comunicação do Amazonas (Secom-AM), Josiclecia Gomes Nogueira.

— A reação que algumas pessoas tiveram após a primeira dose acabou por ocasionar a redução da procura pela segunda dose, assim como a escolha de marcas de vacinas acaba atrapalhando o andamento da campanha. A falta de informação tem sido prejudicial.

No Amazonas, a Secom desenvolve campanhas que norteiam a população nos cuidados com a doença, segundo a secretária. Um dos principais desafios foi orientar, na primeira e na segunda onda, com relação ao atendimento e busca por hospital, já que houve grandes lotações e a maioria do atendimento de UTI ocorre na capital, disse Josiclecia.

Sobre vacinação, o relator Wellington ressaltou que a imunização em massa da população brasileira é o principal caminho para vencer a pandemia. Ele lembrou a aprovação do Projeto de Lei (PL) 1.343/2021, de autoria dele, com a proposta de uso da estrutura de indústrias de produtos veterinários para a fabricação de imunizantes anticovid. O projeto aguarda sanção presidencial.

A reunião foi conduzida pelo vice-presidente da CTCOVID, senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que anunciou para a próxima sexta-feira (9), às 10h, novo encontro da comissão. Desta vez, o tema do debate será a preservação do meio ambiente como forma de prevenir novas pandemias.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)