Comissão ouve Anvisa e Butantan nesta sexta sobre suspensão de teste com vacina

Da Redação | 11/11/2020, 12h17 - ATUALIZADO EM 12/11/2020, 11h20

A interrupção das pesquisas sobre a vacina contra o coronavírus será tema de audiência pública da comissão mista que acompanha as medidas do Poder Executivo no enfrentamento à pandemia de covid-19, marcada para as 9h30 desta sexta-feira (13). Estão convidados o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, para prestarem esclarecimentos sobre os estudos clínicos, em seres humanos, relacionados à vacina CoronaVac, suspensos pela Anvista esta semana. Os requerimentos para a realização do debate foram aprovados nesta quarta-feira (11) por senadores e deputados, em reunião da comissão, que é presidida pelo senador Confúcio Moura (MDB-RO).

A Anvisa suspendeu os testes da vacina CoronaVac em humanos na última segunda-feira (9). Sem apresentar detalhes do caso, a agência informou por meio de nota que a interrupção ocorreu devido a um “evento adverso grave”. O Instituto Butantan criticou a medida. Em entrevista coletiva, o presidente do órgão de pesquisa informou que o “evento adverso grave” não teve relação com a vacina. Um dos voluntários que participou dos testes teria cometido suicídio.

O senador Izalci (PSDB-DF) classificou como “lamentável” a paralisação das pesquisas com a CoronaVac. Presidente da Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia, Inovação e Pesquisa, ele lembrou que “ciência não tem partido”.

— O Instituto Butantan não pode sofrer o que está sofrendo. Ele tem 126 anos, produz e distribui 80% da vacina H1N1. O Butantan não é do Doria. É do povo brasileiro. Não dá para fazer o que fizeram. Lamento muito a posição da Anvisa. Foram negligentes e politizaram — denunciou.

O senador Esperidião Amim (PP-SC) disse que a comissão mista tem “responsabilidade e autoridade” para convocar os representantes da Anvisa e do Instituto Butantan. O parlamentar criticou a politização que envolve a vacinação contra o coronavírus. O tema é alvo de embates públicos entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria.

— Ninguém aqui é ingênuo para achar que só um lado está politizando. Está havendo politização em exagero, sim. Mas não venham dizer que é mocinho contra bandido. Que é o bem contra o mal. Como toda politização radical, é de ambas as partes — afirmou.

Credibilidade e politização

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse ter recebido a notícia da suspensão das pesquisas com “muita indignação”. Ela criticou ainda uma publicação nas redes sociais em que o presidente da República comemora a decisão da Anvisa de interromper os testes. Ele escreveu: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

— Mais de 1,2 milhão de pessoas vieram a óbito em todo o mundo. No Brasil, mais de 162 mil pessoas. Milhões de famílias em todo o mundo aguardando o início da vacinação em massa. Aqui no Brasil, os estudos caminhando. Mas, de repente, temos uma suspensão. Não era esperado. A gente vê notadamente uma postura ideológica e politica na Anvisa, e não uma postura técnica. E a comemoração do presidente da República é algo que nos traz revolta e indignação — disse.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) também criticou a interrupção das pesquisas. Ela lembrou que o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Evandro Chagas são referências internacionais na área de pesquisa biomédica.

— Quando li a noticia, doeu. Eu conheço a história do Butantan, da Fiocruz e do Evandro Chagas. Nós temos os melhores virologistas do mundo. O que doeu ali foi porque era como se se questionasse a credibilidade do Instituto Butantan. Isso não é para ser politizado. Nós nunca vamos ter a sensibilidade do presidente da República em relação à covid. Na verdade, ele é indiferente — lamentou.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) citou uma reportagem do jornal britânico The Telegraph. Segundo a matéria, o Reino Unido pode começar a vacinação em massa dos cidadãos no dia 1º de dezembro com três imunizantes diferentes.

— Estamos mal e muito atrasados. A gente fica no meio de uma briga política. A mortalidade pode começar a diminuir na Grã-Bretanha a partir da vacinação, e aqui a gente mistura vacinação com briga politica. É lamentável — criticou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)