Chanceler defende Mike Pompeo e compara Maduro a 'narcotraficante'
Da Redação | 24/09/2020, 12h40
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu nesta quinta-feira (23) o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, que esteve na semana passada em Boa Vista (RR) para visitar a Operação Acolhida. A força-tarefa mantida pelo governo brasileiro oferece assistência emergencial a refugiados venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira com Roraima.
A defesa de Pompeo ocorreu durante uma audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores (CRE). Segundo o chanceler brasileiro, ao contrário do que foi veiculado por órgãos de imprensa, o colega norte-americano não pregou a derrubada do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante a visita a Roraima. Para Araújo, a “polêmica” em torno das declarações de Mike Pompeo se deu “por má tradução” em uma entrevista coletiva.
— Foi traduzido que ele teria dito: “O nosso mundo está consistente e a gente vai tirar essa pessoa e vai colocar no lugar certo”. Como se estivesse se referindo a Nicolás Maduro. Na verdade, o que ele disse em inglês foi: “Nossa vontade é consistente, coerente. Nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo. Estou em Boa Vista porque estamos trabalhando juntos com o Brasil para ajudar o povo da Venezuela a superar a crise humanitária feita pelo homem, ocasionada pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro”. Nada foi dito que possa ser considerado nenhum tipo de ameaça, agressão ou qualquer coisa nesse sentido — disse Ernesto Araújo.
O ministro informou que a visita a Boa Vista foi sugerida pelo próprio Mike Pompeo. Segundo Ernesto Araújo, o governo norte-americano já destinou mais de US$ 64 milhões à Operação Acolhida, que assegura alimentação, higiene pessoal, aulas de português e segurança a refugiados venezuelanos em 13 abrigos temporários. Desde 2018, o Brasil desembolsou mais de US$ 400 milhões com a iniciativa.
— Os Estados Unidos são os maiores financiadores das operações da Agência das Nações Unidas para Refugiados e da Organização Internacional de Migrações. Parece que faz todo o sentido que o secretário de Estado, que tem esse interesse em contribuir com a Operação Acolhida, visite as instalações — afirmou.
O chanceler brasileiro disse ainda que a visita de Mike Pompeo à fronteira com a Venezuela não tem relação com as eleições presidenciais americanas, marcadas para novembro. Segundo analistas políticos, as críticas do secretário de Estado a Nicolás Maduro fariam parte da estratégia de campanha à reeleição de Donald Trump junto ao eleitorado latino nos Estados Unidos.
— Não é assim. Existe uma grande convergência entre republicanos e democratas sobre a situação na Venezuela. Em uma audiência realizada em agosto no Senado americano, foi evidenciado um amplo consenso bipartidário sobre a questão venezuelana. Não há diferenças substantivas entre as posições de republicanos e democratas — justificou Araújo.
“Vizinhos e narcotraficante”
Ernesto Araújo disse ter conversado especificamente sobre a situação da Venezuela com Mike Pompeo. Mas, para o chanceler brasileiro, “falar de terceiros países é a coisa mais comum em todos esses diálogos”. O ministro rebateu as críticas segundo as quais o Brasil teria “recebido alguém em casa para falar mal do vizinho”. Seguindo a mesma analogia, Ernesto Araújo comparou o presidente Nicolás Maduro a um “narcotraficante” que invade a casa do vizinho.
— Vamos supor que temos um vizinho que é muito amigo nosso. De repente, esse vizinho tem a casa invadida por um narcotraficante que praticamente o escraviza e prende toda a sua família no porão. Vamos supor que um dos filhos do vizinho consegue escapar e vem para o nosso terreno. Nós o acolhemos. Então, recebemos um amigo de outra rua, que também é amigo do nosso vizinho, e vamos falar dessa situação. O fato de falarmos dessa situação não é uma agressão ao nosso vizinho. É uma preocupação com o fato de que a casa do nosso vizinho foi tomada por um narcotraficante — comparou.
O ministro afirmou ter solidariedade com o povo venezuelano — “uma nação amiga, uma nação irmã, com uma tradição democrática imensa”. Mas disse não reconhecer Nicolás Maduro como o presidente legítimo do país, função que, segundo Ernesto Araújo, cabe ao deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela.
— Para nós, o governo da Venezuela é aquele que o Brasil e outros 56 países reconhecem: o governo legítimo de Juan Guaidó. O regime [de Nicolás Maduro] é um grupo de pessoas que manejam as alavancas do poder de forma repressiva, de maneira brutal contra seu próprio povo. É importante que a gente não use a palavra “Venezuela” para se referir a esse bando de facínoras que ainda ocupa o poder e pelos quais a gente só tem desprezo — afirmou.
O chanceler brasileiro disse ainda que “houve uma involução dramática na Venezuela”, marcada por “completa degradação e erosão das instituições ao longo do tempo”. Segundo ele, uma missão internacional independente formada pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas concluiu que “há uma repressão política seletiva contra críticos ao regime, incluindo parlamentares, prefeitos e militares alegadamente implicados em rebeliões”.
— Houve prisões sem mandados judiciais, interrogatórios sem a presença de advogados, uso excessivo da força, falsificação de provas, tortura e violência sexual. Foram cometidos crimes de lesa-humanidade na Venezuela, incluindo assassinatos, encarceramentos, privações graves da liberdade física e outros atos inumanos. Se ocorresse em qualquer outro lugar do mundo, onde as pessoas não tivessem a estranha simpatia que têm por Nicolás Maduro, isso seria denunciado como uma ditadura e um regime ditatorial da pior espécie — pontuou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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