Na véspera do Dia da Mulher Negra, senadoras dizem que 'há pouco a comemorar'
Da Redação | 24/07/2020, 17h53
Neste sábado (25) comemora-se no Brasil o Dia da Mulher Negra. A data foi estabelecida (Lei 12.987, de 2014) para coincidir com o Dia Internacional de Luta da Mulher Negra da América Latina e do Caribe.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) é uma das 11 mulheres na atual legislatura do Senado (13% da Casa) e a única que lidera uma bancada partidária. Para ela, a data é uma oportunidade para que o país discuta meios de superar “injustiças históricas” contra as mulheres negras. Citando estatísticas oficiais, ela lamenta o atual panorama.
— Essa data é de extrema importância. Neste dia 25 de julho há pouco o que se comemorar e muito para se refletir e agir contra essa imensa injustiça social que vivemos no Brasil — destaca ela.
Apesar de perfazerem 55% da população feminina do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres pretas e pardas são 66% das vítimas de homicídio. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Estudo da organização mostra que a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 30% entre 2007 e 2017, índice mais de seis vezes superior ao registrado entre mulheres brancas.
Já uma pesquisa do IBGE sobre desigualdades econômicas no país indica que mulheres pretas e pardas têm rendimentos equivalentes, em média, a 59% dos rendimentos das mulheres brancas. Já a razão entre os rendimentos de mulheres negras e de homens brancos é a mais desigual registrada na pesquisa: menos de 45%.
Nas redes sociais, a deputada federal e ex-senadora Benedita da Silva (PT-RJ) — uma das primeiras mulheres negras eleitas para uma cadeira do Senado na história do Brasil — afirmou que o mês de julho deve ser usado para “dar voz” às brasileiras pretas, pardas e indígenas, grupo que “movimenta o país”.
"Mesmo sendo a maioria, essas mulheres enfrentam violências cotidianas que estão entranhadas e naturalizadas na nossa sociedade. O espírito de luta está presente em cada guerreira contra o racismo e pela igualdade de gênero", afirmou ela em postagem.
O senador Luiz do Carmo (MDB-GO) anunciou um evento em suas redes sociais, a partir das 20h do sábado, para celebrar o dia com uma homenagem à poeta goiana Leodegária de Jesus (1889-1978). O tributo terá a participação de seis vocalizadoras (leitoras de poemas), todas mulheres negras.
O prédio do Congresso Nacional vai marcar a data projetando sobre a cúpula da Câmara dos Deputados imagens de mulheres negras brasileiras, entre as 19h e as 20h desta sexta-feira (24).
História
A primeira senadora negra da história do Brasil foi a médica Laélia de Alcântara (1923-2005), representando o estado do Acre. Baiana de nascimento, ela trabalhou como obstetra, pediatra e professora em Rio Branco (AC) e presidiu o Conselho Regional de Medicina. Em 1974, Laélia compôs a chapa vencedora da eleição para o Senado com Adalberto Sena, ambos pelo PMDB, e assumiu o mandato em março de 1982, com o falecimento do titular. Ela foi a segunda mulher a ocupar uma cadeira de senadora na história republicana do país. Depois do mandato, foi secretária estadual de Saúde.
O ano de 1994 viu a eleição das duas primeiras senadoras negras que encabeçaram as suas chapas: no Rio de Janeiro, Benedita da Silva, e no Acre, Marina Silva, ambas do PT. Benedita exerceu quatro anos de mandato e saiu para ser vice-governadora do estado — em 2002, com a renúncia de Anthony Garotinho, se tornou a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro. Marina conquistou uma reeleição em 2002, foi ministra do Meio Ambiente e foi a primeira mulher negra a disputar a Presidência da República, angariando mais de 42 milhões de votos em três campanhas.
A lei que celebra o Dia da Mulher Negra foi uma iniciativa do Senado, assinada pela ex-senadora Serys Slhessarenko (MT). O texto homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola na Capitania de Mato Grosso (atual estado de Mato Grosso) no século 18. Ela era esposa de José Piolho, líder do Quilombo do Quariterê, localizado nas proximidades da capital colonial de Vila Nova da Santíssima Trindade (próxima à fronteira com a Bolívia). Em 1750, com a morte do marido, Tereza assumiu o comando do quilombo e manteve-o independente por 20 anos, até a sua morte.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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