Parlamentares repudiam discurso de inspiração nazista de secretário demitido
Da Redação | 17/01/2020, 12h49
Após pedidos de parlamentares nesta sexta-feira (17), o secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. Em um vídeo divulgado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, Alvim usou trechos muito semelhantes a um discurso do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. A reação de senadores e deputados foi publicada em redes sociais.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, classificou o pronunciamento do secretário como “acintoso, descabido e infeliz”. Para ele, o vídeo “de assombrosa inspiração nazista” é “inadmissível”. “Como primeiro presidente judeu do Congresso Nacional, manifesto veementemente meu total repúdio a essa atitude e peço seu afastamento imediato do cargo. É inadmissível termos representantes com esse tipo de pensamento. E, pior ainda: que se valha do cargo que ocupa para explicitar simpatia pela ideologia nazista e, absurdo dos absurdos, repita ideias do ministro da Informação de Adolf Hitler, que infligiu o maior flagelo à humanidade”.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, afirmou que Roberto Alvim “passou de todos os limites”. “É inaceitável", disse.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também criticou a declaração do ex-secretário. “O governo que prometeu ausência de ideologia promove um verdadeiro rechaço à nossa democracia. Já não bastasse as atitudes autoritárias e antidemocráticas, um deles vem a público de mãos dadas com o nazismo. O Brasil não merece isso”.
O senador Jaques Wagner (PT-BA), que é de família judia, alertou para as consequências do nazismo na história. “Sou judeu, filho e neto de judeus, conheço a história e suas consequências. Não quero que nenhum povo seja dizimado. Repudio as declarações irresponsáveis deste sujeito que não pode usar sua função pública para propagar o nazismo. Inaceitável!”
Para o senador Paulo Rocha (PT-PA), a declaração é “repulsiva”. “Na democracia não cabem manifestações totalitárias. Roberto Alvim, definitivamente, não deve ocupar nenhum cargo público deste país”.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) cobrou a demissão do secretário nacional de Cultura. “Se o presidente [Jair Bolsonaro] não tomar a única atitude possível para consertar o seu erro ao colocar um nazista na Cultura, estará compactuando com a sua fala. Exoneração, já!”
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), “não há limites para a máquina de ódio do governo Bolsonaro”. “O nazismo virou referência para a área cultural da gestão. O uso da frase do ministro da propaganda de Hitler é uma ofensa à democracia e um desrespeito às milhões de vítimas do Holocausto”.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) classificou o vídeo como “discurso abjeto” e também há havia defendido a demissão de Roberto Alvim. “Caso não seja demitido de imediato, usaremos nossas prerrogativas no Senado para convocar o ministro para que ele explique e seja responsabilizado por ação tão indecente. Se isso passar como normal e aceitável, o precedente aberto por ele terá efeitos nefastos a todos”.
Até um aliado do presidente da República criticou o vídeo de Rodrigo Alvim. Em mensagem dirigida a Jair Bolsonaro, o senador Major Olimpio (PSL-SP) classificou a declaração do secretário como “propaganda nazista”. “A inteligência é limitada, a ignorância não! Demite já o Alvim”.
Segundo o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich, o líder nazista afirmou: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
No vídeo, Roberto Alvim disse: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
Segundo sites de notícia, o secretário já teria sido demitido, faltando publicação oficial.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
MAIS NOTÍCIAS SOBRE: