Telmário Mota defende normalização das relações com a Venezuela

Da Redação | 17/04/2019, 16h24

O presidente da subcomissão que trata das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela, senador Telmário Mota (Pros-RR), relatou nesta quarta-feira (17), durante reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), sua recente viagem oficial à nação vizinha. Telmário esteve na segunda-feira em Caracas, quando participou de reuniões de trabalho com o presidente Nicolás Maduro, com o chanceler Jorge Arreaza e outras autoridades.

Reabertura da fronteira

Telmário disse considerar uma vitória ouvir de Maduro de que a fronteira entre os dois países será reaberta.

— Fui à Venezuela porque sou brasileiro, luto pelo meu país e por Roraima, por causa dos enormes prejuízos na balança comercial que estão ocorrendo. Roraima está à beira do colapso por conta disso. O presidente Maduro anunciou para mim que iria reabrir a fronteira e fez o gesto. Reabriu ontem e estará aberta até sexta-feira [19], e a partir de segunda-feira [22] um grupo de trabalho entre os governos de Roraima e da Venezuela buscará o equilíbrio da relação. Maduro também me informou que irá adquirir todos os produtos alimentícios de Roraima que estiverem à disposição, pagando antecipadamente — afirmou o senador.

Colapso econômico

Telmário disse que continuará a trabalhar pela normalização das relações comerciais entre os dois países. Citando números recentes da balança comercial, ressaltou que historicamente o Brasil sempre tem superavit com a Venezuela, pois o país prioriza fortemente a produção petrolífera e o setor agrícola não é desenvolvido. Quanto a Roraima, o senador ressaltou que a Venezuela é responsável pelo fornecimento de 80% da energia para o estado, sendo também o principal fornecedor de calcário, ferro e gasolina para grande parte das cidades.

— 80% da economia de Roraima dependem de repasses federais, só 20% são recursos ordinários. E estes recursos ordinários estão comprometidos por causa das fronteiras fechadas(...). É nossa fonte de renda, o setor primário. Isso está afetando e muito o estado de Roraima, que vive à beira do colapso. As aulas ainda não começaram na área rural, o transporte escolar está todo paralisado, as cirurgias eletivas também estão todas paralisadas. As empresas terceirizadas estão desde o início do ano sem receber, e os índices de violência cresceram 50% neste ano. Enquanto isso, o Brasil mantém-se de costas para Roraima — afirmou o senador, segundo o qual a população roraimense "clama por ações concretas".

Telmário classificou de equivocada a opção geopolítica do governo brasileiro em apoiar as sanções econômicas dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que as sanções prejudicam enormemente a nação vizinha, causando, entre outras coisas, o aumento da migração. Só no ano passado, disse Telmário, o Brasil despendeu R$ 266 milhões em políticas de acolhimento a venezuelanos, o dobro do que foi gasto entre 2004 e 2017 pela missão militar brasileira no Haiti.

O senador também disse ter ouvido de Maduro que a Venezuela atua para retomar o fornecimento de energia para Roraima. Telmário ressaltou que o Brasil paga R$ 264 milhões por ano pela energia venezuelana, mas com o fornecimento suspenso, os gastos são de R$ 111 milhões por mês com termelétricas para suprir o consumo necessário. Este cenário projeta um prejuízo anual superior a R$ 1 bilhão para o Brasil, sem a energia proveniente da Venezuela.

Relação com o Senado

O senador ainda apresentou uma carta escrita por Maduro, que será entregue aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da CRE, senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Telmário disse que não leu a carta, mas que, durante a reunião, o presidente venezuelano convidou o Senado brasileiro para, através de uma comissão externa, visitar seu país. Maduro garantiu que esta comissão terá total liberdade de ação para "conhecer a realidade da Venezuela".

O senador também disse que foi muito criticado nas redes sociais devido a este encontro com Maduro, mas considera que reuniões bilaterais como esta são salutares, por buscarem o incremento das relações. Citou como exemplo mais claro disso o recente diálogo entre os EUA e a Coreia do Norte, por meio de encontros dos presidentes Donald Trump e Kim Jong-un.

Guaidó

No dia 28 de fevereiro deste ano, o Senado recebeu a visita de Juan Guaidó, reconhecido pela Assembleia Nacional da Venezuela como o presidente encarregado do país. Líder da oposição a Maduro, Guaidó obteve o mesmo reconhecimento de 60 países, incluindo os Estados Unidos e os integrantes da União Europeia. O Itamaraty também o reconheceu como o presidente encarregado da Venezuela.

Mas Maduro, reeleito em um pleito questionado por observadores internacionais, segue a governar o país, com o apoio das forças armadas venezuelanas. Também em fevereiro, Maduro decidiu fechar as fronteiras com o Brasil, em retaliação ao apoio do país à entrega de um carregamento de ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)