Na CRE, senadores sugerem ao futuro governo prudência na política externa

Da Redação | 30/10/2018, 15h03

Algumas sinalizações dadas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, em sua campanha presidencial e por alguns de seus assessores mais próximos em assuntos de política externa despertaram preocupações em senadores que fazem parte da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. Eles expuseram essas preocupações durante a reunião realizada nesta terça-feira (30).

A senadora Ana Amélia (PP-RS), comentou declarações e atos de Bolsonaro durante a campanha com relação à China. O então candidato afirmou que iria rever as relações comerciais com o gigante asiático, acusando-o de estar "comprando o Brasil", e ainda fez uma visita oficial a Taiwan. A embaixada da China no Brasil considerou a visita uma “afronta a soberania e integridade territorial da China”.

— Uma coisa é os Estados Unidos tomarem medidas restritivas de comércio contra a China, outra coisa muito diferente é o Brasil seguir esta mesma trilha. Os Estados Unidos são uma superpotência e continuarão a ser, além de  serem a maior economia do mundo. Já nós temos hoje uma dependência comercial com a China, nosso maior parceiro. Nosso poder de fogo não pode ser comparado com o dos Estado Unidos — alertou.

Israel e nações árabes

Para Cristovam Buarque (PPS-DF), o futuro governo Bolsonaro cometerá um erro se resolver rever estruturalmente as relações econômicas, estratégicas ou diplomáticas do Brasil com a China. Ele também manifestou uma "enorme preocupação" com sinalizações de que a embaixada brasileira em Israel possa ser transferida de Tel Aviv para Jerusalém.

— Tenho enorme carinho por Israel e pela cultura judaica, mas mudar a embaixada para Jerusalém trará consequências graves para nossas relações com praticamente todos os países árabes e islâmicos. Nossos produtores de frango ou de carne halal por exemplo correrão um risco concreto de perder estes grandes mercados. Parece que Bolsonaro quer ideologizar o Itamaraty, afirmando que não vai ideologizar — ponderou.

O presidente da CRE, Fernando Collor (PTC-AL), manifestou seu apoio às declarações de Cristovam.

Argentina e Acordo de Paris

Ana Amelia também criticou as declarações dadas ontem pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a Argentina "não será uma prioridade" da gestão Bolsonaro. Ela reforçou os profundos laços econômicos que unem os dois maiores países da America do Sul, além das relações estratégicas e institucionais que se dão no âmbito do Mercosul.

Por fim, a senadora considerou "um bom sinal" o recuo de Bolsonaro com relação à saída do Brasil do Acordo de Paris. Lembrou que setores importantes do agronegócio brasileiro manifestam apoio ao compromisso internacional, pois a saída certamente provocaria o aumento das barreiras comerciais à exportação de nossos produtos agropecuários.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)