Audiência aponta que terrorismo usa tecnologia para crescer

Da Redação | 16/10/2017, 20h31

Em audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) nesta segunda-feira (16), os debatedores apontaram que o uso da tecnologia permitiu aos grupos terroristas a ampliação de sua área de influência e do alcance de suas ações. A audiência ocorreu dentro 14° Painel do Ciclo de Debates da CRE e foi intitulada “Terrorismo e ameaças cibernéticas no século XXI: os inimigos sem rosto”.

O professor Jorge Mascarenhas Lasmar, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), admitiu que a definição do termo é complexa, mas apontou que o ciberterrorismo é “o uso politicamente motivado de computadores por usuários dispostos a usar a violência para influenciar decisões”. De acordo com o professor, os terroristas têm usado a internet como via de recrutamento e meio de propaganda – o que vai além da simples forma de comunicação ou da busca de financiamento.

Lasmar registrou que o Brasil não pode se considerar imune ao terrorismo. Ele destacou que já existem casos nacionais do uso da internet para recrutamento, como o que ocorreu com uma jovem do Pará, que queria entrar para o Estado Islâmico. O professor registrou que recentes ataques terroristas, como os ocorridos na Europa, foram coordenados em redes sociais e por meio de celulares. Segundo Lasmar, o terrorismo já vem utilizando de comunicação direta entre terminais de computadores, sem passar por provedores de internet – o que dificulta a fiscalização estatal.

— O uso da internet pelo terrorismo é um problema real. Além do ciberataque propriamente dito, a verdade é que os ataques tradicionais têm sido facilitados pelo uso da tecnologia — apontou o professor.

Segundo o diretor de Relações Institucionais da an Academic Network at São Paulo (Rede ANSP), general de divisão Paulo Sérgio Melo de Carvalho, o uso das tecnologias pelos grupos terroristas exigiu a adaptação das ações militares. Carvalho informou que o Estado Islâmico tem até um help desk 24 horas para os seus membros. Ele lembrou que as tecnologias estão disponíveis tanto para os militares quanto para os terroristas e pediu uma maior cooperação entre as entidades privadas e estatais.

— Não adianta mais combater só com fuzil. Precisamos também combater com os recursos da cibernética — declarou.

Inteligência

O professor Gills Vilar, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), apontou que, principalmente depois do atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, grupos não estatais passaram a usar recursos tecnológicos como um novo caminho para o terrorismo. Segundo Vilar, o uso das redes sociais, em que “todos falam com todos”, permitem a disseminação das ideologias terroristas. Ele lembrou que já houve casos de autoridades brasileiras espionadas pelo governo dos Estados Unidos, destacou que um terrorista cibernético é capaz de comprometer vários serviços governamentais e defendeu o fortalecimento dos órgãos de inteligência do Brasil.

— Precisamos positivar, no sentido de tornar real, o que é terrorismo cibernético, levando em conta todos os princípios do direito internacional — afirmou.

O coordenador-geral de Defesa da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcus Vinícius Reis, apontou que a tecnologia permite uma maior descentralização das células terroristas – trazendo mais dificuldade no combate ao terror. Segundo Reis, até a questão da soberania precisa ser repensada, em função da ausência de limites do tráfego das informações terroristas. Ele admitiu que “é impossível prever todos os ataques”, mas defendeu a ampliação dos setores de inteligência do governo, ao apontar que a inteligência é essencial na luta contra o terror, principalmente na prevenção de atos terroristas.

— O Estado precisa aprender a atuar diante dessa situação. Estamos falando de uma questão global. Antes, o terror era contra o estado, mas hoje é contra os civis — alertou.

A realização da audiência foi sugestão do presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTC-AL), que coordenou o debate. A presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), o senador Hélio José (PMDB-DF) e vários embaixadores estrangeiros no Brasil também acompanharam a audiência.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)