Novos tempos ameaçam sobrevivência dos Correios, alerta presidente da empresa

Da Redação | 06/06/2017, 18h19

Em audiência pública nesta terça-feira (6), na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), o presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Guilherme Campos Júnior,  afirmou que a estatal precisa adaptar-se aos impactos tecnológicos dos novos tempos com urgência, se quiserem sobreviver. O presidente da ECT também não descartou a possibilidade de demissão de funcionários e de redução de agências.

— O impacto das novas tecnologias no mundo postal tem grande repercussão. Todos os grandes serviços postais do mundo passaram por essa mudança, e há bem mais tempo. Cada pais achou a transformação mais adequada a sua realidade; nós, aqui no Brasil, também vamos achar a nossa - disse.

Guilherme Campos Júnior observou, no entanto, que a queda do volume de objetos postais altera em muito o trabalho da empresa e suas finanças.

Campos Júnior disse que não há possibilidade de a estatal ser privatizada. Em sua avaliação, as singularidades do modo de atuação e a situação financeira da empresa seriam incapazes de atrair a atenção de qualquer investidor. No primeiro quadrimestre de 2017, os Correios registraram prejuízo de R$ 800 milhões, sendo que R$ 600 milhões referem-se ao pagamento do plano de saúde de estatal.

— Tem que dar tudo errado para que a solução dos Correios seja pelo caminho da privatização. A empresa está presente nos 5.575 municípios do país. Esta característica de integração nacional, essa capilaridade é uma característica que a diferencia das demais empresas públicas do país. Pelo cenário atual, duvido que aparecesse algum interessado nessa privatização. Nenhuma empresa do Brasil, por exemplo, quis entrar na disputa pelo Banco Postal, operado pelo Banco do Brasil, e que hoje representa a única atividade financeira em mais de 1.700 cidades do país – destacou.

Campos Júnior disse que a reestruturação que se faz necessária atualmente deveria ter sido adotada há uma década pelos Correios, que registrou prejuízo de R$ 2 bilhões nos últimos dois anos, o que vem obrigando a empresa a fazer “ajustes e cortes desgastantes em todas as áreas”.

— Desde 2016 promovemos congelamento dentro de nossos orçamento e evitamos aumento de despesas de um bilhão e meio de reais, eliminamos funções gratificadas, houve mudança na política comercial da empresa, e desde novembro, com consultoria contratada para redesenhar a empresa, apresentamos uma nova estrutura dos Correios, focada nos negócios, aproveitando sinergias, eliminando níveis hierárquicos e a superposição de áreas, promovemos enxugamento expressivo na estrutura, eliminando mais de 400 postos de gerência e 20 departamentos — explicou.

Dos 117 mil funcionários da empresa, 7 mil já aderiram ao último plano de desligamento incentivado lançado pelos Correios, cuja folha de pagamento, somando salários e benefícios, representa 60% do custo operacional da empresa, explicou Campos Júnior.

— Não existe empresa congênere que possa fazer frente a esses desafios e custos, e não está descartada a possibilidade de demissão motivada. O conserto está sendo feito com o carro andando, esperamos para ver o resultado até o final do ano - disse.

Outros participantes

Para o presidente da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Correios, José Aparecido Gândara, que há mais de 40 anos trabalha na estatal, “infelizmente, as gestões políticas que têm passado pelos Correios só têm feito mal à empresa, que elegeu, como prioridade, acomodar apadrinhados políticos”.

— Se a tarifa [postal] fosse corrigida em 2012, a folha de pagamento não estaria consumindo 60% dos recursos da empresa. Nos últimos cinco anos, houve patrocínios esportivos em  R$ 500 milhões — R$ 300 milhões nas Olimpíadas. O governo levou da empresa  R$ 3 bilhões em dividendos. Para cobrir assaltos e atrasos em entregas, são R$ 300 milhões ao ano. Gastaram mais de R$ 50 milhões para trocar a marca da empresa. A culpa é da má gestão, e não dos trabalhadores. O menor salário dos Correios está em R$ 900; o maior, em torno de R$ 48 mil. É muita a diferença — afirmou.

Presidente da Associação dos Analistas dos Correios, Jailson Pereira disse que a empresa é uma peça fundamental da administração pública, no que tange ao serviço postal.

— Trinta por cento das cidades do Brasil só possuem os Correios para acesso bancário, conforme dados do Banco Central, de 2013. No Amazonas, é a única instituição presente em todos os municípios do estado — frisou.

Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares, José Rivaldo da Silva disse que a estatal deveria promover a motivação dos trabalhadores, ao contrário de medidas de reestruturação que só cortam direitos.

Presidente da Associação Nacional dos Trabalhadores da ECT, Rodolfo Amaral disse que a empresa é diferenciada, por manter “ação social muito forte e integrar o país". Ele defendeu ainda a criação de um fundo de apoio aos Correios, e observou que o monopólio postal só atinge cartas e boletos bancários.

O senador Paulo Rocha (PT-PA) ressaltou que os Correios têm ação social e que o desmonte da empresa terá repercussão negativa em toda a cadeia produtiva nacional.

— Aí vem esse papo de diminuição de custos. Já demonstramos o contrário. Quanto mais salário na mão do povo, mais perspectiva de desenvolvimento social — ponderou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)