Relatório alternativo da CPI do Futebol vai pedir indiciamento de dirigentes

Sergio Vieira | 23/11/2016, 16h57

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol, senador Romário (PSB-RJ), concedeu nesta quarta-feira (23) vista coletiva para duas propostas de relatório final que foram apresentadas ao colegiado.

O primeiro, elaborado pelo relator, senador Romero Jucá (PMDB-RR), estava pronto desde abril e desde então disponível para consultas.

Romário disse ver "pontos positivos" nesse trabalho, porém tomou a iniciativa, junto com Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de apresentar um voto em separado devido ao fato de a peça apresentada por Jucá não prever nenhuma sugestão de indiciamento.

Durante a reunião, o relator disse que não propôs indiciamentos por entender que órgãos de controle como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal, dentre outros, possuem melhores condições de aprofundar as investigações a partir de documentos hoje em mãos da CPI.

Ele reiterou que, caso seu relatório seja aprovado, toda a documentação sigilosa do colegiado será enviada a essas entidades e também ao Banco Central, ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e à Controladoria Geral da União (CGU).

- Vícios, falhas e precariedades tornaram o futebol um terreno fértil para desvios e delitos de todo tipo. Os expressivos volumes de recursos movimentados pelo esporte parecem ser um atrativo irresistível para toda sorte de interesses - disse Jucá durante a reunião, informando que seu relatório prevê o envio aos órgãos de controle de documentos com operações envolvendo os nomes do presidente da CBF, Marco Polo del Nero, e de ex-presidentes como Ricardo Teixeira e José Maria Marin.

"Chapa branca"

Na defesa de seu voto em separado, Randolfe classificou o relatório de Jucá de "chapa branca", justamente por não trazer as sugestões de indiciamentos. Tanto quanto Romário, o senador pelo Amapá defendeu a prerrogativa constitucional da CPI de realizar as investigações e propor, a partir daí, as medidas cabíveis.

Romário divergiu especialmente da forma usada por Jucá em seu texto para tratar das ilicitudes: "eventuais medidas coercitivas e de repressão a atos ilícitos talvez se façam necessárias", escreveu o relator.

— No nosso relatório não existe a palavra "talvez". Após um ano e meio de trabalhos, possuímos documentação cabal para dizermos claramente quem deve ser banido da administração do futebol - afirmou Romário.

O voto em separado dele e de Randolfe sugere os indiciamentos de Marco Polo del Nero; José Maria Marin; Ricardo Teixeira; do deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), vice-presidente da CBF; Gustavo Feijó, também vice-presidente da CBF; Carlos Lopes, diretor jurídico da confederação, e Antonio Osorio Ribeiro, ex-diretor financeiro da entidade. Constam igualmente da lista de indiciáveis os empresários José Hawilla e Kleber Leite.

Randolfe reclamou que a CPI foi "obstaculizada" pelo lobby da CBF que atua dentro do Congresso. O resultado é que, desde abril, as quebras de sigilo e convocações tornaram-se impossíveis após o acatamento de uma questão de ordem apresentada por membros do colegiado.

- O futebol no Brasil é administrado por uma gangue, há corrupção em tudo. Nos amistosos da seleção, nas transferências de jogadores, em contratos de patrocínios, nos fornecimentos de serviços e bens. Vivem no luxo e prejudicam uma melhor estruturação desse esporte. Isso também prejudica a economia e a sociedade - argumentou o senador em entrevista após a reunião.

Ele anunciou o encaminhamento do seu voto em separado à Fifa e às autoridades brasileiras da área de controle mesmo na hipótese de não ser aprovado.

Romário deixou claro depois da reunião que o envio do documento à Fifa tem como objetivo o "banimento" de todos os nomes citados no relatório, a exemplo do que a nova direção da entidade já começou a fazer em relação a diversos ex-cartolas.

"Chapa verde-amarela"

Na resposta a Randolfe, Jucá defendeu seu relatório das críticas dos dois colegas:

— Não é chapa branca, nem chapa vermelha, mas chapa verde e amarela, respondeu o relator. Ele citou como exemplo de independência e rigor a proposta que apresentou de proibir a parentes de dirigentes fazerem negócios com as entidades, prática comum, mas considerada uma porta aberta para a corrupção.

E voltou a reiterar que os documentos sigilosos nos quais aparecem os nomes de del Nero, Marin e Teixeira, seguirão para a Polícia Federal e o Ministério Público, órgãos aos quais disse "não querer dar lições sobre como aprofundar as investigações".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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