Severino renuncia ao mandato e promete voltar absolvido pelo povo

Da Redação | 21/09/2005, 00h00

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), renunciou ao seu mandato em discurso da tribuna, na tarde desta quarta-feira (21), depois de reafirmar sua inocência e sustentar que sua eleição para o cargo contrariou os interesses de "uma elitezinha que não quer jamais largar o osso". Ele afirmou que deixa o mandato pobre e endividado e anunciou a intenção de se candidatar novamente a deputado, no próximo ano.

- Vou rebater as acusações. Vou provar que estou sendo condenado pelas palavras de um empresário desastrado, mentiroso e devedor dos cofres públicos. (...) Voltarei. O povo me absolverá - afirmou.

Severino foi ouvido por um Plenário silencioso, formado por quase 300 dos 513 deputados.

Ao fim do discurso, estudantes universitários que estavam nas galerias do Plenário da Câmara começaram a se manifestar. Aos gritos do refrão "tem mensalinho, tem mensalão, mas não tem dinheiro para educação", os estudantes foram retirados à força pela segurança da Câmara. O vice-presidente, deputado Thomaz Nonô (PFL-AL), convocou para esta quinta-feira (22) uma reunião de líderes para tratar da eleição do novo presidente da Câmara. Ele informou que o novo presidente deverá ser eleito até quinta-feira da semana que vem (29).

Severino Cavalcanti renunciou 18 dias depois da primeira denúncia de que ele teria recebido propina de um empresário que explora um restaurante no anexo da Câmara. Desde então, o deputado desmentiu todas as afirmações do empresário. A Polícia Federal investigou o caso a pedido do próprio Severino, mas nos últimos dias a PF encaminhou o inquérito ao Supremo Tribunal Federal, pois havia suspeitas de que teria havido corrupção no processo - só o Supremo pode autorizar investigação de parlamentares federais.

No discurso em anunciou sua renúncia, Severino Cavalcanti fez um historio de seus 43 anos de vida política e afirmou que sua eleição para a Presidência da Câmara significou, pela primeira vez, que chegava ao terceiro posto na hierarquia da República um parlamentar que representava os deputados desconhecidos ("baixo clero"). Ele acusou os líderes políticos e a imprensa de, desde sua posse, tratá-lo com desdém.

- A queda do presidente do 'baixo clero', lógico, é uma vitória dessa elitezinha que fez tudo para derrubá-lo e ridicularizá-lo - disse.

Sustentou ainda que, sob sua presidência, a Câmara mostrou-se independente do Palácio do Planalto, tendo "desengavetado" projetos de interesse da população, que foram votados. O entanto, por ter ferido interesses, a mídia "alimentou na opinião pública a versão caluniosa de um empresário que precisava da mentira para encobrir as dívidas crescentes de seus restaurantes, que necessitava da extorsão para equilibrar a desastrosa administração de suas empresas". Afirmou que foi condenado sem julgamento e vai comprovar sua inocência nos tribunais.

Depois de informar que havia solicitado ao seu filho José Maurício que pedisse demissão do cargo que ocupa no Ministério da Agricultura, em Pernambuco, Severino Cavalcanti não poupou a imprensa pelas críticas que sofreu. Disse que a democracia não pode viver sem a imprensa livre, mas afirmou que, no Brasil, "liberdade de imprensa tem sido a porta aberta para suspeitas sem comprovação, para acusações sem provas, para a destruição de reputações".

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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