Miriam Santos coordena os bancos de leite humano do Distrito Federal. Foto: ReproduçãoO Brasil tem o maior número de doadoras de leite materno do mundo, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, essa cobertura ainda é deficitária em algumas regiões, de acordo com a coordenadora de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Miriam Santos. Alguns estados (principalmente da Região Norte, que registra a maior taxa de mortalidade infantil do país) só dispõem de um banco de leite, na capital.

 Para resolver a questão, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) analisa projeto do senador Dário Berger (PMDB-SC) que obriga todas as maternidades de referência regional a possuir bancos de leite em suas instalações. O objetivo do PLS 171/2016 é aumentar a capilaridade da rede.

 Ana Clélia Martins é mãe da pequena Ana Clara, que nasceu prematura e permanece internada no Hospital Materno Infantil de Brasília há mais de dois meses. Ela destaca que o leite doado tem sido fundamental para ela e outras mães com bebês internados.

 Ana Clélia Martins e a filha Ana Clara, que teve a vida salva por doações. Foto: Reprodução

— A minha bebê não teria como ingerir fórmulas e, se não fosse o leite que recebi, eu não teria como alimentá-la.

 Entre os 292 bancos de leite humano do mundo — implantados em 23 países da América Latina, Península Ibérica e África —, 217 estão no Brasil. E há ainda 167 postos de coletas reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 Essas unidades beneficiaram, entre 2008 e 2014, 79,1% dos bebês assistidos por doações no planeta. A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (Rede BLH) é fruto de uma parceria do Ministério da Saúde com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e é considerada pela OMS a maior e mais complexa rede de banco de leite do planeta.

 O Brasil exporta tecnologia e conhecimento de doação de leite. O país é reconhecido como referência mundial em aleitamento materno pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela revista científica britânica The Lancet.

 Alimento e cura

 O leite produzido em excesso e doado por uma mãe pode significar a chance de sobrevida e cura para o bebê de outra, especialmente para crianças que nascem com baixo peso, prematuras ou com algum problema de saúde.

 Os bancos de leite e postos de coleta possuem ambulatórios de apoio à lactante e família e metodologias de incentivo ao aleitamento, como explica Miriam.O primeiro banco de leite humano do Brasil foi implantado em outubro de 1943, no então Instituto Nacional de Puericultura, atual Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

 O ideal é que o leite saia diretamente do peito para o bebê, mas nem sempre é possível. Segundo Miriam, o leite humano cru fica bom por até 15 dias no congelador, com a conservação adequada. Com o processamento pelos bancos de leite, a validade aumenta para até seis meses. Só em 2015, foram distribuídos 145.985 litros de leite humano pasteurizado, com qualidade certificada, a 177.728 recém-nascidos internados em unidades de terapia intensiva.

 O leite humano é essencial para proteger recém-nascidos porque alimenta e defende contra diarreia, infecções respiratórias, diabetes e alergias. Para garantir o leite materno a bebês cujas mães não podem amamentar ou produzem pouco leite (por exemplo, por causa de cirurgia de redução ou retirada de mama), foram criados em todo o país os bancos de leite humano. Eles recebem, pasteurizam, fazem testes para controle de qualidade e distribuem o leite para as crianças internadas em unidades neonatais.

 Aline Guedes


Compartilhar: Facebook | Twitter | Telegram | Linkedin