Quando chega esta época do ano, as queimadas se espalham pelo centro do Brasil. Praticamente não há chuva nessa região durante o inverno. Por causa do ar extremamente seco, as árvores, os arbustos e os gramados do Cerrado desidratam e, torrados, tornam-se combustível para as chamas.

Em Brasília, no coração do Cerrado, não chove há 86 dias. O recorde é de 1963, quando foram 164 os dias de estiagem, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

No mês passado, os bombeiros do Distrito Federal tiveram que lutar contra 1.500 focos de incêndio, em áreas rurais e urbanas. E foram mais de 500 apenas nos primeiros nove dias deste mês. Houve dias em que Brasília ficou envolta por uma névoa de fumaça asfixiante.

Em graus diferentes, a situação se repete em outros pontos do Cerrado, desde o Maranhão até o Paraná.

 

Balde e mangueira


Diante de um incêndio, a reação mais acertada é acionar imediatamente os bombeiros, pelo telefone 193.

Quando o fogo se espalha, as pessoas não devem tentar apagá-lo sozinhas. O risco é grande. Além de não conseguirem extingui-lo, correm o risco de inalarem fumaça e de se queimarem seriamente. Balde, mangueira e extintor só funcionam quando o fogo ainda é pequeno e concentrado. O arsenal dos bombeiros, extenso, inclui aviões e helicópteros.

Se há casas nas proximidades de um incêndio, outra medida importante é fazer os moradores abandoná-las o quanto antes, mesmo que o fogo avance em outra direção.

— O vento pode mudar o caminho das chamas de repente e levá-las com rapidez até as casas, deixando as pessoas sem chance de escapar. Seria trágico — diz o tenente-coronel Mauro Sérgio de Oliveira, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

Na região do Cerrado, o clima seco é absolutamente natural no meio do ano. O que não é natural é o fogo. Os incêndios são sempre ação humana.

Há criadores de gado e agricultores que incendeiam a terra para renovar as áreas de pastagem e plantação. Há pessoas que queimam lixo nos fundos de casa. Há moradores de rua que fazem fogueira em terreno baldio. Não é raro que o fogo saia do controle. E há, ainda, aqueles que atiram o cigarro aceso pela janela do carro.

As consequências são ruinosas para o meio ambiente. O Cerrado é a segunda maior paisagem (ou bioma, como se diz no jargão acadêmico) do Brasil, atrás da Amazônia, e abriga uma variedade formidável de plantas e animais — 5% da biodiversidade mundial.

A fauna tem 320 mil espécies, incluindo o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e a onça-pintada. A flora conta 12 mil espécies, como o pequizeiro, o jatobá e o buriti. Todas estão perfeitamente adaptadas aos verões chuvosos e aos invernos secos da região — mas não aos incêndios.

Segundo o biólogo Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados, é errônea a ideia de que, após o fogo, o Cerrado consegue se recuperar integralmente:

— Quando a vida volta a se estabelecer depois do incêndio, apenas as espécies que resistiram ao fogo passam a ocupar e a dominar aquela terra. As plantas e os animais que não resistiram não conseguem voltar. A biodiversidade sofre um abalo drástico. Os danos das queimadas são irreversíveis.

 

Senado exibe fotos do bioma e distribui sementes


O Senado aproveita que hoje se comemora o Dia Nacional do Cerrado para realizar nos próximos dias uma série de atividades sobre o bioma.

De hoje até sexta-feira, todas as pessoas que participarem das visitas guiadas pelo Congresso Nacional ganharão sementes de caroba (ou jacarandá-boca-de-sapo), uma árvore que produz flores roxas, chega a ter 10 metros de altura e é típica do Cerrado.

O presente aos visitantes é resultado de uma parceria entre o Senado Verde e o Clube da Semente do Brasil.

Hoje, às 18h30, será aberta na Biblioteca do Senado a exposição Cerrado Vivo, com fotografias das mais belas flores, árvores e animais da região. As imagens foram feitas por funcionários da Embrapa (empresa pública de pesquisas científicas ligada ao Ministério da Agricultura).

A exposição poderá ser visitada, gratuitamente, até o dia 28.

Livros

Logo após a abertura da exposição de fotos, serão lançados os livros Vida: uma Poesia ao Cerrado, com poemas de Cora Coralina e Reynaldo Jardim, e Arborização Urbana no Distrito Federal: história e espécies do Cerrado, elaborado pela Novacap (empresa pública que cuida da urbanização da capital federal). Os dois livros foram impressos pela Gráfica do Senado.

A exposição de fotografias e o lançamento dos livros foram organizados pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), que é presidida por Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

Na quinta-feira, às 15h30, a CMA realizará uma audiência pública sobre o Cerrado. Serão discutidas formas de proteger o bioma, que é ameaçado pelas queimadas e pela expansão desordenada da agropecuária.

Foram chamados para o debate, entre outros convidados, o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, e o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Brandão Cavalcanti.

O Cerrado se espalha por quase um quarto do território brasileiro e abriga uma grande diversidade de plantas e animais.


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