Onde e como são tão importantes quanto o que comer

Da Redação | 07/04/2015, 15h00

Foto: Ana Volpe/Jornal do SenadoO que muita gente ainda não se dá conta é de que o ambiente é capaz de decidir o que as pessoas vão comer. Em frente à TV, no ônibus ou na rua, as escolhas, em geral, são alimentos prontos para consumo, como biscoitos, doces, salgadinhos de pacote. Afinal, não exigem garfo nem faca e estão disponíveis em todo lugar: da farmácia ao posto de gasolina. À mesa, porém, come-se mais comida “de verdade”, como frango, macarrão e legumes. O modo de comer também é mais saudá- vel: envolve cozinhar, colocar a mesa e, se possível, compartilhar o momento.

 

— O ambiente está o tempo todo colocando em risco a nossa decisão fazer escolhas saudáveis. A importância desse aspecto é uma novidade do guia — avalia a professora Elisabetta Recine, da UnB.

 

Comer mais ou menos, fator-chave para o ganho de peso, também tem a ver com o ambiente. Ingere menos calorias quem come com atenção, devagar, em local tranquilo. A distração — que hoje não é só da TV: tem celular, tablet, notebook — atrapalha o cérebro a entender quando é hora de parar de comer.

 

— É muito difícil sentir a mesma saciedade comendo duas bolachas ou as mesmas calorias num prato de comida. O cérebro fica enganado com o volume menor e aí comemos mais — explica Maria Laura Louzada, da USP.

 

Quem já tentou comer só uma batatinha do pacote sabe que controlar a vontade é um desafio. Também, pudera. Açúcares, gorduras e aditivos deixam os ultraprocessados extremamente saborosos. E as embalagens são gigantes. “É maior o risco do consumo involuntário de calorias e maior, portanto, o risco de obesidade”, diz o guia.

 

— O problema da obesidade é muito complexo. Envolve o ato de comer, o ambiente, os padrões de consumo — diz Maria Laura.

 

O guia tem o objetivo também de impedir o avanço da doença no Brasil. Se a fome até pouco tempo atrás assustava o país, hoje o que preocupa é o excesso de peso.

 

Pesquisas do IBGE mostram um aumento expressivo e contí- nuo da obesidade desde os anos 80. Os últimos dados, de 2013, indicam que metade dos adultos está acima do peso ideal e 17,5% estão obesos. Entre as crianças, 33% estão acima do peso. Com esses números, já somos o quinto lugar no ranking mundial do excesso de peso. Realidade que pesa também sobre os cofres públicos: o SUS gasta R$ 488 milhões por ano com a obesidade e doenças relacionadas, como diabetes, cardiopatias e câncer de mama.

 

— O resgate da qualidade alimentar é muito importante, mas estamos em um contexto que dificulta isso — diz Roberta Cassani, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.

 

A oferta de alimentos frescos pode ser um desses obstáculos para quem quer se alimentar de forma saudável. Além de onipresentes, os ultraprocessados investem pesado em propaganda. Mais de dois terços dos comerciais sobre alimentos na TV anunciam fast food, guloseimas, refrigerantes. A maioria, dirigida a crianças e adolescentes. Para o Ministério da Saúde, o poder público pode atuar com regulamentação da publicidade e taxação. O México, por exemplo, aumentou a tributação sobre refrigerantes e tem tido resultados positivos.

 

— É preciso dar condições para as pessoas abandonarem os ultraprocessados. Elas precisam saber que eles não fazem bem à saúde, precisam poder comprar alimentos frescos e saber cozinhar. O ambiente tem que colaborar — afirma Elisabetta.

 

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)