Medida não é consensual, mostra audiência

Da Redação | 10/05/2011, 00h00

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) discutiu na semana passada a possibilidade de serem retirados do mercado alguns inibidores de apetite. A medida divide a opinião dos especialistas.

 

O diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, lembrou que a sibutramina deixou de ser vendida no mercado norte-americano pela própria Abott, que registrou a patente e fabrica o remédio. A empresa tomou a decisão após realizar o estudo Scout (Sibutramine Cardiovascular Out comes  Trials), a pedido de autoridades europeias. O levantamento durou seis anos e envolveu cerca de 10 mil pessoas.

 

Segundo Barbano, o estudo concluiu que apenas 30% das pessoas tratadas com sibutramina perderam pelo menos 5% do peso após três meses, além de registrar um aumento de 16% no risco cardiovascular.

 

“Se o laboratório que registrou o produto optou pela retirada, seremos menos rigorosos que a própria Abott?”, questionou Dirceu Barbano.

 

No entanto, para a endocrinologista Rosana Bento Radomin ski, representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, não se pode generalizar as conclusões do estudo da Abott, “realizado com uma população de risco” (pacientes obesos com antecedentes cardiovasculares ou diabéticos).

 

Segundo disse, não é razoável extrapolar resultados obtidos em uma população de cardiopatas para pacientes sem doença cardiovascular.

 

Radominski acrescenta que “não há necessidade de proibição, sendo mais recomendável um maior controle sobre o uso dessas medicações, para que sejam utilizadas corretamente e quando realmente necessárias, já que o seu uso pode ser inevitável quando a mudança de hábitos do paciente, com reeducação alimentar e a prática de atividades físicas, é insuficiente para combater o sobrepeso ou a obesidade.

 

Para Radominski, os endocrinologistas apresentaram dados irrefutáveis de que os medicamentos são eficazes e apresentam baixo risco, quando utilizados de forma correta e sob prescrição ética.

 

“Baseados em dados científicos, revelamos que o documento [da Anvisa] continha erros graves e interpretações tendenciosas de estudos publicados sobre o assunto”, afirmou.

 

O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirel les ,  argumentou que “a retirada do mercado vai deixar sem alternativa terapêutica uma grande quantidade de pacientes obesos e estimulará o mercado negro de medicamentos. O uso indiscriminado deve ser combatido, com maior controle sobre a prescrição inadequada”, afirmou Meirelles.

 

Crítico dos inibidores de apetite, o médico sanitarista José Ruben Bonfim, representante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e coordenadorexecutivo da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos, afirmou que o Brasil “não pode ser o último país a bani-los”. Segundo Bonfim, uma das principais razões para a defesa dos anfetamínicos e da sibutramina são os interesses da indústria que os fabrica.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)