Se a Copa fosse de educação, Brasil ficaria de fora

Da Redação | 10/12/2013, 00h00

Tatiana Beltrão


Se a Copa do Mundo de 2014 fosse de educação e não de futebol, nem o Brasil nem nenhum outro país latino-americano estaria competindo. A comparação foi feita pelo especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Marcelo Alfaro na semana passada, durante o lançamento, no Congresso, do Observatório do Plano Nacional de Educação.

 

Alfaro se referia aos resultados dos países da América Latina no Pisa 2012. A nação latino-americana mais bem classificada no ranking é o Chile, em 47º lugar em leitura, com 441 pontos — 129 menos que o primeiro colocado, China (Xangai), que obteve 570 pontos. O Brasil teve 402 pontos na média das três áreas analisadas (matemática, leitura e ciências) e em todas elas ficou abaixo do desempenho médio dos países (494 pontos).

 

Quando se consideram os resultados regionalizados, incluindo estados, o Brasil mostra performance ainda mais preocupante. Na lista de mais de 180 regiões, que inclui estados e territórios de todo o planeta, Alagoas aparece em último lugar em leitura. Em matemática, os nove últimos colocados são todos estados brasileiros do Norte e do Nordeste.

 

A prova é realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 65 países — 34 integrantes da OCDE e 31 convidados, como o Brasil. São avaliados estudantes de 15 anos com escolaridade mínima de 7 anos de estudo. Na edição 2012, o Brasil teve 18,6 mil participantes de 767 escolas, escolhidos por sorteio.

 

Em leitura, o objetivo do exame é avaliar “a compreensão, o uso e a reflexão sobre textos escritos para alcançar objetivos pessoais, desenvolver o conhecimento e potencial individuais e participar plenamente da vida em sociedade”. Nessa área, metade dos estudantes brasileiros teve performance abaixo do nível básico de proficiência (nível 2), o que significa que conseguem, no máximo, reconhecer o tema principal de um texto sobre um assunto conhecido e fazer conexões simples. Apenas 0,5% atingiu o nível 5 ou mais, que significa ser capaz de compreender textos sobre assuntos mais complexos.

 

O MEC comemorou o resultado em matemática (que avançou 35 pontos desde 2003), foco da avaliação desta edição do Pisa. Para Cristovam Buarque (PDT-DF), porém, não há motivo para comemorar. Em Plenário, o senador disse que é uma vergonha o governo considerar o resultado um avanço, quando a média das nações em leitura (e também nas demais áreas) foi bem acima da do Brasil, de 410 pontos.

 

— A média de países muito pobres é 496, e nós comemoramos? É como se a gente estivesse caminhando num caminho que vai se alongando. Então, embora a gente avance, fica para trás, porque o caminho cresceu mais do que avançamos. E os países ao redor avançam mais do que nós — criticou, acrescentando que só o Brasil comemorou os resultados do Pisa como vitória, enquanto outros governos estão preocupados, mobilizando-se para planejar estratégias de melhoria.

 

O senador defende a federalização da educação básica, hoje responsabilidade dos governos municipais e estaduais, como caminho para a promoção da qualidade do ensino no país. Ele cita o exemplo do desempenho das escolas federais no Pisa 2012: em matemática, a pontuação dos alunos desses colégios chegou a 484,9 pontos; nas escolas municipais, foi de 333,8 — ou seja, mais de 150 pontos de diferença.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)