Retrato estilhaçado de quem sofre alienação
Da Redação | 09/11/2010, 00h00
Durante 17 anos ela não teve a menor possibilidade de conviver com o seu pai, nem sequer possuí uma fotografia dele. Os avós paternos morreram sem que ela os conhecesse, muito menos pôde conviver com os primos. Só aos 19 anos, quando estava na metade do curso de jornalismo, é que Karla Mendes, hoje com 40 anos, descobriu que havia sido alvo de armadilhas e armações da própria mãe para afastá-la não só do pai, que morava nos EUA, como de toda a família paterna.
— Dos dois anos de idade aos 19, tudo o que ouvia era que meu pai não prestava, que havia supostas tentativas de agressão à minha mãe e que ele simplesmente nunca havia nos procurado. Ele, na verdade, procurou com insistência, e esse direito sempre lhe era negado, como também a qualquer pessoa da sua família — contou Karla, que não tem contato com a mãe há sete anos, durante audiência na Câmara.
A jornalista maranhense, que também é bacharel em Direito, engajou-se na luta pela nova lei. Deu entrevistas e participou, com seu pai e sua irmã, do documentário A morte inventada, do diretor carioca Alan Minas, que ajudou a alertar e a mobilizar vários segmentos da sociedade em torno da importância de se coibir legalmente as práticas de AP.
— A alienação não tem nada a ver com guarda. Ela pode ser praticada ainda durante o casamento — afirmou a jornalista, exemplificando com sua própria história. Uma tia materna contou-lhe recentemente que seu avô paterno viajava até a cidade no interior do Nordeste, onde ela e seus pais moravam quando ainda eram casados, só para tentar ver à distância a neta mais velha. "Ficava dentro do carro, na expectativa de me ver passar com um dos meus pais", relatou. Essa proibição de contato com a família paterna contribuiu para a separação dos pais.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)