"Droga da obediência" provoca polêmica

Da Redação | 10/02/2012, 00h00

O estimulante metilfenidato, apelidado de "droga da obediência" pelos críticos, é a medicação mais usada no tratamento de TDAH, principalmente com os nomes comerciais Ritalina e Concerta, sempre com tarja preta (vendido sob controle).

Algumas secretarias estaduais fornecem gratuitamente esses remédios, diante de receita especial, mas não o SUS, como explica o coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Cristoph Surjus.

- Não há consenso médico sobre os resultados do uso prolongado nem sobre os efeitos colaterais -alega Surjus.

O metilfenidato vem sendo usado indevidamente por pessoas que vão prestar concurso e acreditam que o remédio aumentará sua concentração. Compram o produto de forma ilegal, sem receita, por um preço até cinco vezes maior que o das famácias. E para uma doença que eles não têm.

O tratamento ideal de TDAH inclui orientação a pais e professores, ensino de técnicas ao portador e psicoterapia cognitivo-comportamental. Mas a medicação é imprescindível, segundo o psiquiatra José Miguel Neto, pai de uma menina com o transtorno.

- O metilfenidato enfrenta enorme preconceito por pura ignorância. Não há histórico de dependência química, e os efeitos colaterais mais comuns são insônia e perda de apetite -informa o psiquiatra.

A psicóloga Gabriela Mieto, que trabalha com educação especial na Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação, do Distrito Federal, é uma das que apontam uma prescrição indiscriminada do metilfenidato ultimamente.

-Na verdade, o aluno com TDAH desorganiza o ambiente, então o remédio facilita mesmo é para quem está cuidando da criança, e não para ela -critica Gabriela.

Paulo Mattos confirma que houve grande aumento da venda no Brasil, mas garante que o consumo atual não é capaz de tratar nem 10% dos brasileiros com TDAH. Ele não vê problemas no fato de a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, onde é presidente do Conselho Científico, ser patrocinada por laboratórios fabricantes de metilfenidato.

- Isso não é nenhum demérito. Todas as associações de auxílio a portadores de determinada doença têm auxílios assim. Devo deixar de acreditar no caderno de automóveis de um jornal porque vejo lá propagandas de fabricantes de carros, por exemplo? -compara o psiquiatra.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)