Tecnologia deve ser usada com limites e supervisão

Da Redação | 29/11/2016, 08h00

 

Se não há dúvidas sobre os benefícios de andar de bicicleta e pular amarelinha, as brincadeiras que envolvem o uso de dispositivos tecnológicos como tablets, celulares e videogames geram questionamentos quanto a prejuízos ao desenvolvimento na primeira infância.

 

Marilena Martins, do IPA Brasil, afirma que os aparelhos eletrônicos não trazem os mesmos benefícios de brincadeiras tradicionais. Segundo ela, pesquisas evidenciam que a exposição frequente a televisão, smartphones e computadores pode prejudicar crianças pequenas, dificultando a socialização e o desenvolvimento da capacidade motora, por exemplo.

 

— Até 2 anos o ideal é ficar longe da TV e de outras tecnologias. Não existe equipamento que possa substituir o contato humano — disse.

 

A Academia Americana de Pediatria recomenda que crianças menores de 1 ano e meio não sejam expostas a televisão, computador ou tablets.

 

Outras pesquisas, no entanto, mostram que jogos, vídeos e aplicativos podem contribuir para o raciocínio lógico e o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, desde que devidamente desenvolvidos para esse fim, aponta a especialista em comportamento digital Juliana Grasso. Para ela, o problema não está na tecnologia em si, mas no uso exagerado, que pode levar ao sedentarismo.

 

— O uso excessivo de internet por crianças e adolescentes significa menos tempo em outras atividades. Daí a gente consegue tirar algumas conclusões, mas hoje não podemos predizer as consequências de fato. Temos que olhar de forma atenta, não podemos esperar para pagar o preço no futuro — apontou.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta pais e educadores a não deixar que crianças de 2 a 5 anos fiquem mais de uma hora por dia em computadores ou similares.

 

Uso consciente

 

É cada vez mais comum crianças de 4 e 5 anos dominarem o touchscreen das telas, mas não conseguirem amarrar os tênis, explica Juliana Grasso. O exemplo dos pais é fundamental, acrescenta. Pesquisa sobre a percepção das crianças em relação ao uso de smartphones pelos pais apontou que 54% dos filhos acreditam que os pais checam demais o telefone e se sentem menos importantes do que os aparelhos.

 

— Estamos falando de uma questão de saúde emocional. E 28% dos pais começam a perceber que não estão dando bom exemplo — detalhou.

 

Os pais também devem sempre supervisionar os conteúdos acessados pelas crianças, recomenda a especialista em comportamento digital.

 

— As crianças não têm maturidade para elaborar e entender muitos dos conteúdos a que estão expostos — avalia.

 

Seguidores

 

As irmãs Ester, de 5 anos, e Eloah, de 10, têm juntas mais de 500 mil seguidores em dois canais na plataforma de vídeos YouTube. É possível acompanhá-las dando comidinha de faz de conta para bonecas, fantasiadas de médicas de brinquedos ou se divertindo em uma piscina. Elas teriam a rotina comum de qualquer criança, mas está tudo publicado.

 

As meninas fazem parte do recente fenômeno dos youtubers mirins — crianças que, apoiadas pelos pais, vêm angariando expressiva atenção na web com seus vídeos.

 

Segundo a mãe das duas, Eliane Lourenço, 33, que tem ainda outro filho, Silas, de 3, os filhos podem brincar com tablets e outros dispositivos eletrônicos, mas sempre sob supervisão.

 

— Eu costumo estar sempre por perto. Acho que tem um lado negativo quando os pais deixam celulares com os filhos e não observam o conteúdo, mas se os pais estão por perto, monitorando, não tem problema. Existe muito conteúdo de qualidade para as crianças — avalia.

 

Eliane afirma que a ideia de criação dos canais veio das próprias meninas.

 

— O processo de filmagem é, para Ester e Eloah, uma grande brincadeira. A Eloah viu uma menina brincando no Youtube e pediu para fazer vídeos. A Ester começou a imitar a irmã. Elas criam as histórias com as bonecas na hora da gravação — diz.

 

Eliane reforça que as crianças adoram brincar com dispositivos eletrônicos, mas não ficam limitadas a isso. A família costuma fazer passeios semanais em parques e áreas livres.

 

Tempo livre


Supervisão também é a palavra de ordem na casa de Adélia Segal Ramos, 33 anos. Tablets, televisão e smartphones não são proibidos, mas estão no final da fila de atividades preferidas pelos filhos.

 

Na rotina diária, os compromissos de Luca e Lis, na primeira infância, são a escola e as aulas de natação. O resto do tempo é livre, dedicado às brincadeiras e à imaginação.

 

— Eles não pedem muito para usar tablets e celulares porque nós, os pais, não temos o hábito de ficar o tempo todo no computador. A gente usa o smartphone quando é necessário. Eles pedem, mas a gente desconversa e diz que é melhor que eles brinquem de outras coisas — relatou.

 

A família optou por ter apenas uma televisão para manter o conteúdo sempre sob supervisão.

 

— A televisão fica na sala e, quando os pequenos estão assistindo, estamos sempre por perto — conta Adélia.

 

Atividades em família também são hábito. Toda quarta-feira, Luís, pai de Luca e Lis, tira folga do trabalho para andar de bicicleta e brincar com os filhos em parques e locais ao ar livre, quando não chove. O mesmo se repete nos fins de semana.

 

— Crianças que ficam na frente de uma tela muito tempo deixam de fazer amiguinhos, não aprendem a dividir e a compartilhar — acredita Adélia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)