Em Goiás, senador assiste a guerra e enfrenta baioneta

Ricardo Westin | 21/03/2018, 19h57

Com a voz trêmula, o senador João Abrahão (MDB-GO) subiu à tribuna em 2 de abril de 1968 para narrar a guerra que testemunhara em Goiânia. Na véspera, uma tropa investira contra um ato de estudantes, ­deixando dois mortos.

— Após os tiros, quando fui prestar socorro à juventude, vi uma baioneta à minha frente e ouvi: “Dê mais um passo e verá o que acontece”. Acreditei que, se declinasse a minha condição de senador da República, isso teria algum valor. Ele repetiu: “Dê mais um passo e verá o que acontece”.

Na meio da fala, Abrahão sacou algo do paletó.

— Trouxe esta bala de fuzil como recordação. São balas deste calibre que estão dizimando a nossa juventude. Na democracia em que vivemos, o governo prende qualquer cidadão, mata estudantes em praça pública e encosta baionetas na barriga de um senador.

Naquele 1º de abril, o golpe militar fazia quatro anos. Os alunos protestavam contra o governo e a morte de Edson Luís, ocorrida poucos dias antes, no Rio.

Em junho, o senador Arthur Virgílio (MDB-AM) denunciou mais violência, agora ­contra alunos da UnB:

— Antes das 6h, policiais invadiram os dormitórios. As moças foram retiradas do leito em trajes íntimos e assim levadas para o campus, após serem insultadas da forma mais torpe.

Virgílio, então, provocou:

— O que faria o presidente Costa e Silva se fizessem isso com uma filha sua?

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)