Debatedores recomendam identificação biométrica para conter violência em estádios
laercio-franzon | 24/05/2018, 22h40
A Comissão Senado do Futuro (CSF) realizou audiência pública nesta quinta-feira (24) para discutir medidas para o combate à violência nos estádios causada principalmente por membros de torcidas organizadas.
Na avaliação do tenente-coronel da Polícia Militar e coordenador de Operações de Segurança Pública do Distrito Federal, Márcio Cavalcante de Vasconcelos, a elaboração de um cadastramento biométrico dos integrantes das torcidas organizadas é uma das ações mais importantes que devem ser realizadas num primeiro momento para enfrentar a violência entre torcidas.
— Quem será o ente responsável por fazer isso [o cadastro biométrico]? Será a torcida organizada junto com a PM? Será a organizada junto com a federação? A federação vai fazer isso pautada pela Secretaria de Segurança? Falta a definição de um processo que leve exatamente a isso. Talvez isso seja o essencial neste primeiro momento. Mas eu acredito que os primeiros pontos que devem ser adotados como medida preventiva é exatamente este cadastramento para a gente ter uma relação transparente entre a torcida e o poder público, representado ali pelos entes de segurança — disse.
Vasconcelos disse ser necessário melhorar as condições de segurança nos estádios mediante a instalação de sistemas de monitoramento. De acordo com ele, no Distrito Federal apenas o Estádio Mané Garrincha tem laudos de engenharia, de bombeiros, de segurança e de condições sanitárias aprovados.
O autor do requerimento para a realização do debate, senador Hélio José (PROS-DF), também manifestou seu apoio à certificação digital de torcidas organizadas, as quais, em sua opinião, desempenham um importante papel para o sucesso dos espetáculos futebolísticos.
— O cadastro biométrico é uma forma de separar o joio do trigo. De permitir que nossos pais, mães e filhos possam ir aos estádios, participando de suas torcidas organizadas sem serem penalizados. A rivalidade é normal, faz parte do espetáculo. Essa rivalidade aguerrida e bem organizada só colabora com o espetáculo — disse Hélio José.
Redução da violência
O procurador de justiça e presidente da Comissão Permanente de Prevenção e Combate à Violência nos Estádios, órgão auxiliar do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Justiça (CNPG), Valberto Cosme de Lira, citou, como exemplo de medida adequada para a redução da violência nos estádios, a experiência de biometria do Clube Atlético Paranaense.
— Não existe fórmula mágica para resolver o problema. Como bom exemplo, está é a proposta que o Ministério Público oferece, temos a experiência da biometria que está sendo implantada no Clube Atlético Paranaense. Uma experiência que é alvissareira. Existe no Rio de Janeiro, não sei se foi adiante, uma proposta para o cadastro parcial, que ia ser implantado num primeiro momento pelo Vasco da Gama. Diríamos que ia ter esse projeto piloto no São Januário. Proposta que interliga Detran, Judiciário e outros órgãos — afirmou.
Opinião contrária
Alex Minduín, presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), mesmo considerando válida a implementação de sistemas de monitoramento interno e externo nos estádios, colocou-se contra a proposta de identificação biométrica dos membros de torcidas organizadas. Segundo ele, essa medida criminaliza as torcidas organizadas.
— Nós discordamos porque, primeiro, como se sabe, o torcedor de organizada tem uma temporalidade de passagem dentro de sua torcida. Ou seja, o indivíduo que adentra numa organizada, ele tem uma vida útil de 5 anos a 6 anos frequentando estádios, participando de caravana etc. Após isso, ele segue outros caminhos, dando prioridade aos seus interesses pessoais. E passa a frequentar os estádios de uma forma mais amena, mais tranquila — afirmou, protestando também contra a segregação das organizadas em espaços limitados dos estádios.
A representante da Liga de Futebol Nacional do Brasil, Gislaine Nunes, manifestou apoio à posição de Alex Minduín.
— Corroboro todas as palavras ditas pela Anatorg. Não vejo nada de útil quando se vê uma torcida única dentro de um estádio. Isto é lamentável, gerando prejuízos inestimáveis para todos aqueles que participam do espetáculo. Isso cria ânimos de colisão fora dali porque as grandes catástrofes as grandes violências, os homicídios, as cenas bárbaras de violência elas acontecem fora dos estádios — declarou ela.
Convívio pessoal
Já o representante da Polícia Militar do Distrito Federal, capitão Marcelo dos Santos, disse ser essencial um estreitamento no convívio entre líderes de torcidas organizadas e a Polícia Militar.
— A Polícia Militar entende que é um passo importante nos conhecermos. Nós temos programas de equoterapia, programas de futebol, de lutas que são oferecidos para várias pessoas da comunidade. É um caminho importante para o aprimoramento não só da segurança pública em geral, mas também para essa relação com as torcidas organizadas. Acho que conhecermos a pessoa vai produzir um caminho mais profícuo para enfrentar esse problema — declarou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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