CPMI: repórter diz que registrou guardas da Força Nacional paradas no MJ

Da Agência Senado | 15/08/2023, 16h28

O repórter fotográfico Adriano Machado confirmou em depoimento à CPMI do 8 de Janeiro que registrou em fotos a presença de guardas da Força Nacional no estacionamento do Ministério da Justiça, enquanto os manifestantes se dirigiam ao Palácio do Planalto. A declaração foi feita na reunião desta terça-feira (15), após indagação do senador Eduardo Girão (Novo-CE) que quis saber do profissional de imprensa se ele tinha identificado alguma movimentação de repressão para impedir a entrada dos depredadores no prédio. 

— Porque é isto que a gente está procurando saber: onde estava a Força de Segurança Nacional naquele momento? Porque foi muito fácil aquela quebradeira, e o senhor sabe disso, porque o senhor cobre há muito tempo... Foi muito fácil adentrar aqui na Esplanada dos Ministérios naquele fatídico dia — disse Girão, lembrando que a sede do Ministério da Justiça fica ao lado do prédio do Palácio do Planalto. 

Ainda em resposta ao senador, o fotógrafo informou que não teve dificuldade para entrar no Palácio do Planalto, pela rampa, por estar devidamente identificado como profissional de imprensa, mas que tanto na parte da frente quanto no estacionamento do Palácio do Planalto  “tinha um combate forte”. 

— E ali, no estacionamento do Palácio, também dava para ver que tinha um grupo de militares, soldados - não sei -, não deixando essas pessoas entrarem pela área do estacionamento — completou. 

Acesso às imagens

Com base na afirmação de Adriano Machado, os parlamentares de oposição ao governo defenderam que a Agência Reuters encaminhe as imagens feitas pelo fotógrafo para auxiliar na linha de investigação defendida por eles: que busca apurar a possível omissão das forças de segurança e, em especial, da Força de Segurança Nacional. 

— Dizem que eram 250 homens. Dizem, essa é a notícia que se tem, de que a Força Nacional teria mobilizado 250 homens ali no Ministério da Justiça, e não lhe ocorreu que aquilo lá estava fazendo falta aqui. Não me cabe lhe cobrar isso, até porque o senhor não tem que dar essa explicação. Quem tem que dar essa explicação são os líderes da omissão (…) Ou seja, o senhor ajuda, com a sua participação aqui - que eu respeito, eu repito -, a demonstrar a omissão, a grande omissão, a escandalosa omissão de quem é pago para gerir a segurança na Esplanada dos Ministérios, para fazer funcionar o Plano Escudo, que é algo que vem sendo aperfeiçoado, principalmente depois do impeachment da presidente Dilma — alertou o senador Esperidião Amin (PP-SC). 

Já os deputados e os senadores governistas criticaram a postura da oposição no depoimento desta terça-feira. Para eles, os oposicionistas se aproveitaram da oportunidade para reforçar a narrativa que, segundo eles, tenta transformar “a vítima em algoz”.  No entendimento do grupo que defende o governo, as Forças Nacionais estavam de prontidão na Esplanada dos Ministérios, mas que cabia apenas à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal a requisição para que essa força atuasse. O que, conforme esses parlamentares, não aconteceu. 

— Agora, eu fico ouvindo essa questão da Força Nacional, Presidente Arthur Maia... A Força Nacional só pode atuar com autorização da PM, porque, vamos dizer, a ação, a determinante da ação é a Polícia Militar. Então, quando o senhor vê a Força Nacional, ela devia estar lá mesmo, porque ela foi convocada para estar. Mas ela só pode atuar à medida que a PM assim o requisitar. Ela não pode atuar, porque quem tem o poder de campo, o mando de campo, nesse caso, é a PM do Distrito Federal — argumentou a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ). 

Constrangimento 

A presença de Adriano Machado na CPMI foi classificada por alguns parlamentares como uma tentativa de constrangimento e de criminalização do trabalho livre da imprensa. 

— O senhor está sendo vítima de várias violências na esfera moral, na esfera profissional e na esfera psicológica. Daí minha solidariedade porque, se não bastasse o aumento de 22% do número de casos de violência contra jornalistas no último ano, se não bastassem mais de dois mil jornalistas assassinados nas duas últimas décadas, se não bastasse a América Latina ser um dos territórios mais perigosos para ser jornalista e se não bastassem as constantes perseguições a jornalistas no nosso território, alguns membros querem expor o senhor e desqualificar a sua carreira profissional. E, sabendo um pouquinho só do jornalismo pelo trabalho que o senhor faz, que é um trabalho de bastidores, a exposição por si só é violenta — solidarizou-se a deputada Duda Salabert (PDT-MG). 

O Senador Rogério Carvalho (PT-SE) também reforçou as críticas. 

— O senhor, profissionalmente acompanhando uma manifestação, registrando - que é o papel, é a função de um fotojornalista, fazer o registro das imagens, dos fatos que ocorrem -, é aqui chamado para explicar; e mais: chamado aqui como infiltrado —afirmou o senador. 

Tratamento desigual 

Já na opinião dos oposicionistas, o momento reforça também a necessidade de se refletir sobre a democracia brasileira. Eles avaliaram que enquanto Adriano Machado conseguiu exercer a sua atividade de forma livre, outros profissionais estão com seus direitos a liberdade de imprensa restritos. 

— No dia 12 de dezembro [quando houve manifestação em frente a sede da Polícia Federal], eu vou trazer um exemplo de uma jornalista: Klio Hirano, com carteira e registro de jornalista, foi presa em 28 de dezembro; nem participou do 8 de janeiro e está presa até hoje. Por quê? Porque divulgou imagens. Estava fazendo o registro das imagens do 12 de dezembro. Jornalista como Adriano Machado que nem investigação tem. Essa jornalista, presa até hoje, não participou, não se engajou em qualquer ato de vandalismo e está presa até hoje — comparou o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ).

No entanto, o argumento de Ramagem foi rebatido pelo deputado Rogério Correia (PT-MG). 

— A Jornalista Klio Hirano, que foi aqui citada e que está presa, participou dos atos do dia 12 de dezembro. Ela foi então interrogada, após a prisão, e eles dizem: "Ela é uma jornalista que foi presa, uma perseguida política". Ela disse o seguinte, quando foi perguntada no inquérito... "Respondeu que está acampada nas imediações do Quartel General do Exército em Brasília há aproximadamente 40 dias ou mais, que veio de ônibus fretado, com um grupo de manifestantes e que o objetivo dela era evitar o comunismo no Brasil". Então, é evidente que ela não estava presa por ser jornalista, mas por ser uma manifestante do movimento golpista que se deu em frente aos quartéis.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)