Comissão de Educação confirma Zilda Arns como nova heroína da pátria

Da Agência Senado | 14/03/2023, 16h27

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE) aprovou nesta terça-feira (14) o projeto de lei que inscreve o nome de Zilda Arns Neumann no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (PL 1.937/2019). Como o texto já havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados e agora foi aprovado em caráter terminativo na CE do Senado, o projeto segue direto para sanção do presidente da República.

A relatora da proposta foi a senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO).

— A biografia de Zilda Arns revela a mais profunda e coerente dedicação ao próximo, começando pelas pequeninas e pelos pequeninos, para os quais levou, desconhecendo fronteiras, um tipo de atendimento que mobilizava a boa vontade dos voluntários, por meio de uma orientação inteligente e sensível, capaz de transformar vidas — disse a relatora.

A reunião foi conduzida pelo presidente da CE, senador Flávio Arns (PSB-PR), que é sobrinho da homenageada.

— A tia Zilda, de fato, fez um extraordinário trabalho. A Pastoral da Criança, que foi criada há 40 anos, acompanhou mais de 1 milhão de crianças em bolsões de pobreza durante muitos anos. Isso significa 30, 40, 50 milhões de crianças que hoje são adultos, e tantos outros, que passaram pela pastoral, pelos cuidados de soro caseiro, pesagem, orientação das mães, coisas simples, ao alcance da população — disse Flávio Arns.

A autora do projeto é a ex-deputada federal Tereza Nelma. De acordo com ela, a pediatra e sanitarista “mudou o retrato da desnutrição infantil no Brasil, praticamente reinventando o trabalho voluntário neste país”.

Biografia

Dorinha Seabra relembrou os principais fatos da vida da homenageada: Zilda Arns nasceu em 1934 e é irmã de Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo.

Em 1983, Zilda e Dom Geraldo Majella Agnelo fundaram a Pastoral da Criança (vinculada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB) e formularam um plano de ação para diminuir a mortalidade infantil com o uso do soro caseiro. As comunidades católicas treinavam voluntários para ensinar mães pobres a usar o soro e evitar que seus filhos morressem de diarreia e desidratação.

A cidade escolhida para o início dos trabalhos foi Florestópolis, no Paraná, local em que a mortalidade infantil era muito alta. Após a ação da pastoral, ressaltou Dorinha, a mortalidade nesse município, que era de 127 óbitos para cada mil crianças, baixou para 28 óbitos.

A senadora ressaltou que a fundadora da Pastoral da Criança foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz e recebeu homenagens tanto no Brasil quanto no exterior, ajudou a tirar o Brasil do mapa da mortalidade infantil e inspirou instituições humanitárias no mundo inteiro.

Dorinha também destacou que, pouco depois da fundação da Pastoral da Criança, a iniciativa ganhou o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). E que, ao longo de 25 anos, Zilda Arns visitou os cantos mais remotos do Brasil, expandindo o alcance da iniciativa para 72% do território nacional, além de vinte países na América Latina, na Ásia e na África. Zilda participou de eventos, realizou palestras e acompanhou comitivas da pastoral. 

A pediatra e sanitarista também teve papel de destaque na conscientização pública sobre a síndrome da morte súbita em crianças. Em 2009, uma campanha liderada pela Pastoral da Criança reforçou para os pais a necessidade de se colocar o bebê para dormir de barriga para cima.

Zilda também foi fundadora e coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa, em 2004.

Em 2010, ela viajou ao Haiti para dar uma palestra sobre seu trabalho para um grupo de religiosos. Zilda faleceu durante o terremoto que atingiu o país naquele ano.

Homenagens

O senador Esperidião Amim (PP-SC) apoiou a aprovação da homenagem à memória de Zilda Arns.

— Tive a honra de conferir a Zilda Arns a mais elevada condecoração catarinense, que é a Medalha Anita Garibaldi. Foi uma grande solenidade, muito justa, muito prestigiada pelas organizações sociais, pelas igrejas, numa Florianópolis que, valendo-se dos ensinamentos e da lição de vida dela, adotou mecanismos, desde os mais simples, como o soro caseiro, até outros de acompanhamento de mãe, de gestante, de educação, especialmente para jovens, meninos e meninas, para uma base de planejamento familiar e de planejamento de vida.

O vice-presidente da CE, senador Cid Gomes (PDT-CE), afirmou que Zilda Arns teve uma morte heroica.

— É uma morte de heroína, é uma morte realmente de heroína. A pessoa já na idade em que ela estava, lá no Haiti, e é vítima desse desastre da natureza. Portanto, em muito boa hora, a senadora Dorinha, a quem quero cumprimentar também, relata esse projeto. E esta Casa faz justiça incluindo o nome de dona Zilda Arns como uma das heroínas da pátria. Parabéns! — declarou Cid Gomes.

A Lei 11.597, de 2007, disciplina a inscrição de nomes no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O livro está depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, monumento localizado em Brasília, construído em homenagem ao ex-presidente Tancredo Neves.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)