Senadores pedem que ideologias fiquem "de lado" no combate ao coronavírus

Anderson Vieira | 20/03/2020, 15h11

A aprovação do PDL 88/2020, projeto de decreto legislativo que reconhece o estado de calamidade pública no país, uniu parlamentares governistas e de oposição. Antes de declararem o voto, nesta sexta-feira (20), vários senadores fizeram questão de pedir a união da classe política em torno de uma causa maior: o combate a uma pandemia que pode matar milhares de brasileiros. A importância do trabalho dos profissionais de saúde também foi destacada durante a votação, que foi realizada de forma remota, pela internet.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) foi um dos que pediram para que questões ideológicas fiquem "de lado":

— Nada é mais importante neste momento do que estarmos unidos de forma serena, independentemente de cores partidárias. Nossa ideologia agora é salvar vidas, empregos, empresas e investimentos. É fazer o país ser reconstruído de forma mais forte quando essa pandemia passar — afirmou. 

Líder do PDT no Senado, Weverton (MA) protestou contra a decisão do governo brasileiro de não receber estrangeiros de 12 nações, com exceção dos Estados Unidos, país onde a pandemia avança com rapidez. 

— Ontem [quinta-feira 19], o governo brasileiro baixou um decreto proibindo a entrada de pessoas de 12 países. E, inacreditavelmente, o país que é o segundo onde mais aumenta a proliferação desse vírus, que são os Estados Unidos, não está na lista. Infelizmente, não bloquearam os Estados Unidos. Este momento não é de ideologia, de posições de governo; é o momento de defender o povo brasileiro. É urgente lembrar que não estamos aqui fazendo mais política e nem campanha. Agora é a luta pela sobrevivência e pela vida — argumentou. 

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), por sua vez, disse que o momento de dificuldade extrema pelo qual passa o país pode ter um aspecto positivo: 

— Estamos passando por um momento de grande dificuldade para todos, mas também é um momento em que o Brasil vai reencontrar a solidariedade e o humanismo nas relações. Isso é fundamental para que a gente tenha uma sociedade mais madura e capaz de conviver com as diferenças. Este momento vai oferecer a oportunidade para esse amadurecimento — avaliou. 

Cheque em branco

Alguns senadores destacaram a importância do projeto aprovado nesta sexta-feira, que dará ao governo mais condições financeiras para enfrentar a pandemia, mas chamaram atenção para o fato de que não se trata de uma carta branca para o Executivo gastar como quiser, pois será necessário prestar contas. 

— Com o decreto, certamente os gastos públicos passarão de R$ 200 bilhões de reais este ano, mas o que importa é a saúde da população brasileira. O endividamento público, que já é acelerado, vai se tornar ainda mais preocupante. Mas estamos diante dessa circunstância excepcional, e o nosso dever é fiscalizar a aplicação dos recursos — afirmou o líder do Podemos, Alvaro Dias (PR). 

Ao apresentar argumentos semelhantes, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) observou que haverá o acompanhamento da execução orçamentária:

— Lembro também que o nosso ato aqui não implica cheque em branco. Haverá uma comissão parlamentar que acompanhará a execução orçamentária, com a liberdade que esse decreto dá ao Executivo — explicou. 

Positivo

Em isolamento por estar com a covid-19, o senador Prisco Bezerra (PDT-CE) também participou da votação remota. Ele disse que as medidas governamentais podem parecer duras, mas são necessárias para impedir o avanço da doença. 

Os outros dois senadores com a doença são Nelsinho Trad (PSD-MS) e o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). 

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)