Coronavírus: maioria dos gabinetes do Senado institui teletrabalho

Da Redação | 17/03/2020, 18h06

Mais de 60 gabinetes de senadores — de um total de 81 — já trabalham em esquema de teletrabalho ou plantão. Antes mesmo de o Senado adotar a votação remota, os parlamentares mandaram seus servidores para casa por precaução. O primeiro gabinete a ser praticamente fechado foi o de Confúcio Moura (MDB-RO): antes bem movimentado, hoje funciona presencialmente com apenas duas secretárias. O trabalho delas é despachar com o chefe — ele mesmo no grupo de risco, aos 72 anos — por meio de um chat. Além disso, a equipe inteira usa um mesmo drive para armazenar os trabalhos. Na porta ao lado, também na Ala Teotônio Vilela, uma das maiores do Senado, não é diferente: assim que viu a atitude do vizinho, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) também instituiu o teletrabalho, ou home office.

Um dos primeiros casos de contaminação registrado em Brasília foi o do senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Ele fez parte da comitiva do presidente Jair Bolsonaro que viajou recentemente aos Estados Unidos — Nelsinho voltou da viagem com a doença. Pelas redes sociais, o senador informou que sua recuperação é leve; ele não foi hospitalizado e aguarda o resultado dos exames da família. No seu gabinete, no entanto, ninguém atende. Mesmo depois de todos os funcionários serem testados para o covid-19, com resultados negativos, a ordem é teletrabalho.

O mesmo serve para quem trabalha para os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE),  Marcos do Val (Podemos-ES) e Lasier Martins (Podemos-RS), por exemplo. Lasier e alguns outros senadores continuam reclusos por causa da idade, como Flávio Arns (Rede-PR) e Dário Berger (MDB-SC) — que colocaram toda a equipe em revezamento — e Elmano Férrer (Podemos-PI).  Esperidião Amim (PP-SC) decidiu ficar em casa, no seu estado, até saber o resultado do exame do coronavírus que fez no último sábado (14).

No caso de Esperidião Amin, os servidores em risco estão como ele, em teletrabalho, enquanto os demais seguem no gabinete, mas sem bater o ponto para evitar contaminação. Maria do Carmo Alves (DEM-SE) seguiu na mesma linha: ela mesma com mais de 65 anos, está em Brasília, mas fora do Senado, assim como os servidores na mesma faixa etária que trabalham com ela no gabinete. Quem não se enquadra em grupos de risco segue continua indo para o trabalho.

O grupo de risco no gabinete do senador Irajá (PSD-TO) inclui uma copeira de mais de 65 anos, uma gestante e uma pessoa que tem asma — todas liberadas para o teletrabalho.

— Dos 15 funcionários, temos quatro aqui, enquanto os outros estão em casa. Assessores de imprensa, por exemplo, podem trabalhar longe sem prejuízo algum. Mas o senador, no entanto, está aqui para votar — explicou a chefe de gabinete de Irajá, Hildenê Costa.

Presença

Frente à pandemia, os senadores aliam a tecnologia ao trabalho do gabinete. Luis Carlos Heinze (PP-RS) tem usado videoconferências para se comunicar de sua casa, São Borja (RS), com os servidores em Brasília. Mas, mesmo com essa modalidade de comunicação, muitos gabinetes ainda conservam o método tradicional: ao menos 16 permaneciam com a exigência de presença até a tarde desta terça-feira (17) — exceto para quem está enquadrado em grupos de risco. Em vários casos, os servidores esperam definição mais clara nas próximas horas.

Na equipe do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), por exemplo, todos vêm trabalhando, com a exceção de dois servidores maiores de 65 anos, que foram liberados para trabalhar em casa por estarem no grupo de risco.

“Ainda aguardamos uma decisão mais definitiva do Senado antes de entrar em teletrabalho”, justificou Antônio Carlos Lima, chefe de gabinete de Gurgacz. Ele explicou que, embora já exista o costume de os gabinetes e as lideranças de blocos se comunicarem por meio de aplicativos, a definição do teletrabalho ainda não é consenso. Enquanto isso não acontece, os servidores desse gabinete batem o ponto eletrônico normalmente, assim como nos gabinetes de Flávio Bolsonaro (RJ), onde apenas algumas pessoas estão em teletrabalho, e da senadora Zenaide Maia (Pros-RN), por exemplo.

Zenaide, que está em Brasília, vem apontando a necessidade de o Senado funcionar com o mínimo de pessoas possível. Ela já autorizou pessoas em grupos de risco do seu gabinete a trabalharem em casa.

Fabiano Contarato (Rede-ES) é um dos senadores que permanece com o restante da equipe no gabinete.

— Mas nós temos observado todas as cautelas — frisou.

Em todos os casos, os gabinetes que ainda são frequentados ressaltam que a decisão não é definitiva e pode ser reconsiderada a qualquer momento, dependendo da evolução do nível de contaminados no Distrito Federal e no restante do país.

Até o fechamento desta matéria, na tarde desta terça-feira (17), havia 22 casos confirmados no Distrito Federal. O Congresso é considerado um dos principais pontos de ligação de pessoas de diversas regiões do país, uma vez que parlamentares e suas equipes viajam constantemente entre Brasília e seus respectivos estados. A senadora Kátia Abreu (PDT-RO) está nesse grupo. Ela publicou na segunda-feira (16), em sua conta no Twitter, que acabara de chegar a Brasília “para votar o que for necessário nesta terrível crise”. Ela disse que ficaria em casa e iria ao Congresso quando chamada para votações nominais.

— Daremos presença e voto, se for o caso, sem aglomeração — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)