Plenário aprova Fabio Kanczuk para diretor de Política Econômica do BC

carlos-penna-brescianini | 29/10/2019, 22h10

Com 51 votos favoráveis, 7 contrários e 1 abstenção, o Plenário do Senado aprovou na tarde desta terça-feira (29) a indicação de Fabio Kanczuk para diretor de Política Econômica do Banco Central, apesar de protestos de alguns senadores sobre a forma como se deu a votação e sobre a condução do BC frente à questão dos juros altos. Pela manhã, ele já havia passado por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e tido o nome aprovado pelo colegiado (leia no saiba mais).

A senadora Rose de Freitas (Podemos-ES) criticou a condução da análise do nome de Fabio Kanczuk tanto na Comissão de Assuntos Econômicos quanto no Plenário.

— Vamos construir o entendimento que acharem necessário, mas jamais diminuir qualquer uma das prerrogativas dos senadores. O senhor Fábio Kanczuk teve seu nome votado e aprovado enquanto havia senadores inscritos para sabatiná-lo. Peço que isso não aconteça mais — disse ela.

Rose enfatizou que, em uma sabatina, as respostas que o indicado dá a perguntas feitas pelos senadores enriquecem o debate e podem acabar mudando o ponto de vista dos parlamentares sobre o nome em análise. Por essa razão, ela anunciou que irá apresentar um projeto de resolução impedindo que seja realizada uma votação enquanto o indicado não tiver respondido às perguntas de todos os senadores inscritos.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse apoiar a proposta de Rose. Mas afirmou que a gestão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central merece reconhecimento dos senadores, já que, pela primeira vez na história do Brasil, o crédito privado é superior ao crédito público em função da redução da inflação e da taxa básica de juros.

De todo modo, Bezerra contou que, após as manifestações dos senadores na CAE, ligou para Roberto Campos Neto e conversou sobre a questão dos juros ao consumidor e ao empreendedor.

— Eu disse que o Senado não tolerava mais a permanência desses juros abusivos em relação ao cheque especial e ao cartão de crédito. Que seria importante que o Banco Central pudesse acelerar medidas concretas no sentido de reduzir os juros desses dois produtos sobretudo, que, de certa forma, são um peso excessivo para mais de 1 milhão de correntistas no Brasil — afirmou.

O senador reconheceu que o Banco Central precisa acelerar a quebrar do oligopólio dos grandes bancos, no sentido de democratizar o mercado de crédito, reduzindo consequentemente a taxa de juros para capital de giro e para investimento.

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) reforçou a necessidade de tornar os juros brasileiros "civilizados".

— O grande absurdo está nisso: o spread bancário não cai. O spread , ou seja, a diferença entre a taxa de captação [pelos bancos] e a taxa de aplicação [pelos clientes], de dezembro do ano passado para setembro deste ano, subiu 3,2 pontos percentuais. Era de 17% e pulou para 20,2% — afirmou.

Cadastro positivo

Além de concordar com o projeto de resolução da senadora Rose, o senador Esperidião Amin (PP-SC) ressaltou que, mesmo após a aprovação do Cadastro Positivo automático, os juros não pararam de subir.

O Cadastro Positivo existe desde 2011, mas a inclusão automática de bons pagadores nessa lista só foi aprovada pelo Senado em março, após passar pela Câmara, e sancionada em abril pela Presidência da República. O cadastro foi recebido como uma medida importante para reduzir os juros ao consumidor, visto que uma das alegações dos bancos para manter os juros elevados seria o alto número de inadimplentes, ou maus pagadores, o que aumentaria o risco das instituições ao emprestar dinheiro.

— O que se pode constatar foi o aumento de 25% a 30% nos juros médios de mercado entre setembro do ano passado e setembro deste ano. Então, o Cadastro Positivo deve ter sido apropriado por um Google ou Facebook nacionais para eles saberem quem é que merece crédito — criticou Esperidião Amin.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também criticou os juros, afirmando que o Banco Central não tem agido para reduzir as taxas e que ele vai começar a votar contra os nomes indicados pelo governo.

— Países com o risco muito maior do que o nosso ou com a economia muito mais fragilizada não cobram os juros que são cobrados aqui em todos os setores. Nós assumimos a posição de não votarmos mais favorável a nenhum diretor do Banco Central, porque a gente tem votado e dado um crédito ao governo. Nós definimos que vamos dar um castigo, precisa haver alguma sinalização nesse sentido — disse.

A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) juntou-se às críticas e afirmou que ela e vários outros senadores chegaram ao limite e vão passar a votar contra as próximas indicações de diretores do Banco Central.

— Não vamos aprovar mais nenhum indicado ao Banco Central até que o Bacen cumpra a sua agenda BC Mais. Essa agenda foi formatada no governo Temer, pelo ex-presidente do Banco Ilan Goldfajn. Para que não me acusem de oposição, informo que essa agenda não foi dos governos do PT. Ela previa a queda dos juros. Não queremos mais sermos feitos de palhaços. Queremos a Agenda BC Mais implementada. Enquanto os setores agrícola, industrial e de serviços tiveram uma rentabilidade de 3%, os bancos chegaram a 20% — reclamou.

Perfil

Fabio Kanczuk nasceu em 1969, em São Paulo. Graduou-se como engenheiro eletrônico no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1991. Concluiu mestrado e doutorado em economia pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos anos de 1995 e 1998, respectivamente.

Atuou como professor da Universidade de São Paulo (1991 a 2012) e foi professor visitante na escola de negócios de Harvard (2001 a 2002) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000 a 2001), além de professor assistente na Universidade da Califórnia (1995 a 1997).

Também foi consultor independente na Syllabus Engenharia Econômica (2014 a 2016) e sócio e economista-chefe na Brazil Warrant Gestão de Investimentos (2012 a 2014), na Reliance Asset Management (2007 a 2012) e na MCM Consultores Associados (2002 a 2007). Atuou ainda na Rosenberg & Associados. Declarou ser sócio da Syllabus.

Em 2018, foi diretor-executivo para o Brasil e outros oito países junto ao Banco Mundial, tendo sido secretário de Política Econômica no período de outubro de 2016 a setembro de 2018.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)